quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Misantropia x "Ser Sal"


"A liberdade reside na conformidade, não na separação.[Devemos] buscar o ponto onde a liberdade e o amor coincidem. Este é o ponto que Sartre ignora.O próprio da liberdade não é tão-somente fazer-me escolher entre possíveis no tempo, mas fazer-me escolher entre o tempo e a eternidade, ou antes, permitir-me preferir sempre a eternidade ao tempo".
Louis Lavelle – Graça e Liberdade
Tradução - Luiz de Carvalho.


Dias atrás, graças a um provérbio sueco que diz: "os jovens vão aos bandos, os adultos aos pares e os velhos sozinhos", eu andava desconfiado de ter passado subitamente da juventude para a velhice. "Será que eu passei a "vida adulta" e me tornei um xaropão ranheta e caduco antes do tempo"? Afinal, amo ficar sozinho, posso passar um dia inteiro só e mesmo assim me diverto bastante, com meus livros, textos, com minha guitarra, pensando em posts para o blog, etc... A sós, somos sempre nós mesmos, sozinhos, somos 'livres'.

Muitos sábios apreciaram o isolamento, lamentando o dilema entre tarefas pessoais e sociais, como fez Hermann Hesse, ou a complexidade das relações humanas, da qual queixava-se o über-jornalista Paulo Francis. Não estavam totalmente errados. Porém, entre eu e eles, há uma diferença, literalmente, crucial, no sentido mais estrito da palavra: sou cristão. Devo ser sal da terra e luz do mundo, candeia em lugar alto e visível para que a luz possa ser bem aproveitada. A introspecção é ótima e a meditação fundamental. Mas preciso resistir à tentação de evitar pessoas. Devo é amá-las, o que muitas vezes significa gastar tempo com elas, dividir dores e alegrias, misérias e virtudes, de forma que, através da minha vida, essas pessoas se aproximem do Altíssimo. Não é fácil, mas agir assim é exatamente imitar, em menor escala e em suas devidas proporções, o ato heróico e apaixonado de Jesus: despir-se de sua Deidade, deixar seu trono de glória e vir nascer num curral fétido, emprestado, filho de uma mulher cujo povo já era dos mais odiados, oprimido por um truculento império. Foi um carpinteiro cheio de gente a sua volta, cercado de discípulos bem burrinhos e sempre com legalistas manés (desculpem o pleonasmo) no seu rastro.

Portanto (eu e meus "portanto", não é mesmo?), quem sou eu, quem somos nós para pensarmos que os homens não merecem nossa companhia? Há tempo para tudo debaixo do sol, e que saibamos discernir hora certa de entrar e de sair da caverna. Para que a graça dEle transborde de nós, e que todos que estiverem a nossa volta sejam inundados do Amor Eterno.

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