quinta-feira, 16 de março de 2006

Marxismo cognitivo

Terrorismo: eis a nova prática da qual será acusado qualquer defensor da possibilidade do conhecimento da verdade genuína a respeito de qualquer coisa. Mostre que você estudou e consegue embasar suas convicções e logo será considerado um terrorista.

Cunhada por um dos detratores de Norma Braga na comunidade "João Calvino sem Puritanismo" do Orkut, a expressão "terrorismo teológico" me despertou a atenção nos últimos dias. Lembrei de outra análoga, "terrorismo bibliográfico", atribuída às práticas de José Guilherme Merquior pelo psicanalista Eduardo Mascarenhas no início da década de 80, pelo simples fato de que os livros do erudito Merquior tinham vastos índices onomásticos. Mascarenhas, por sua vez, nada mais era do que praticante e defensor de um dos maiores charlatanismos da história do pensamento contemporâneo.

A absolutização do historicismo e do relativismo como verdades cabais, outrora meras ferramentas referenciais para os empreendimentos teóricos, e a atual glorificação do niilismo ranheta de Nietzsche, da psicanálise, da logofobia derridadiana, entre outras sandices acadêmicas, nada mais são que filhotes daquilo que passarei a denominar de "marxismo cognitivo".

O marxismo cognitivo é o fenômeno no qual essa impávida defesa da pobreza intelectual é um valor moral supremo. Com ele, todos aqueles que possuem uma superioridade intelectual notória são considerados intrinsecamente maus, ameaças vivas à liberdade e à vida plena. Bem sei que, aos profundos conhecedores do marxismo posso estar sendo redundante, pois estes bem sabem que para quem deseja transformar o mundo e não conhecê-lo, qualquer apego ao conhecimento e à sabedoria será taxado de reles "ideologia burguesa". Vê-se pela 11ª tese sobre Feuerbach que o marxismo é o primado da defesa da burrice, "a manifestação suprema da imbecilidade universal", como disse George Bernanos. Antes de vilipendiar a sociedade, a cultura e as instituições, ele destrói as funções da consciência do seu militante. E lá vai, para os piquetes, o robozinho teleguiado.

O marxismo cognitivo é perigosíssimo, mas se passa por bonzinho, pois faz um importante "trabalho social": quando presente na cultura, pode fazer com que seja eleito um político (de esquerda, claro) cuja mãe "já nasceu analfabeta".

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