quinta-feira, 27 de julho de 2006

Sobre show do Slipknot, ou ‘Incoerências filistéias’

Para mim, rock é mais ou menos como gibi ou buffet de sorvete: é legal, divertido, mas sei que há coisas melhores e só aquilo não me sacia e nem pode ser levado muito a sério. Dias atrás assisti a um show da banda Slipknot num canal de tevê a cabo. O som dos caras, dentro da proposta, é bom. A performance é impressionante. Os trajes e máscaras evidenciam uma atitude poser às avessas, na qual a vaidade mezzo gay mezzo brega a la Motley Crüe é substituída pela estética horror-subversão-casa-de-carnes. Marketing puro, nesses tempos em que a moda é ser malvadão, rebelde e monstrengo. Mas duro de agüentar é o discurso, não só pelas blasfêmias...

Certamente uma das características mais fortes atualmente da cultura de massas é a retórica da “revolta contra o sistema”. O mesmo “sistema” que permite aos artistas liberdade para criticá-lo, garantem bons rendimentos (o cd ‘Iowa’ vendeu absurdamente) e permite que adolescentes gordinhos de bochechas róseas (1) sejam levados pelos pais aos shows confortavelmente com seus Audi ou Toyota, após um reforçado lanche com Fruit Loops, Nutella, batatas Pringles, etc.

É a esses de cortes de cabelo sóbrios e bem passadinhas camisetas pretas que o vocalista da banda se refere como “novos abortos” e “maggots”. Hilário, ainda mais quando a câmara dá um zoom nos bem-nascidos. Ouve-se muito aquela palavrinha que evidencia a pobreza do vocabulário torpe no idioma inglês. E a molecada grita ensadecida...

No final das contas, engraçado, quem não vive o que prega e é taxado de burro é o crente aqui... Até meus amigos não-cristãos concordaram comigo, ao perceberem tantos contra-sensos. Alguém até pode me dizer ninguém estava ali para ser coerente, apenas para se divertir. Mas o problema é que essa incoerência, hoje, está em toda parte, tem um propósito claro e disso só discordam os que, normalmente, já aderiram a ela.



1 - Lembrei aquela do W. H. Auden sobre Nietzsche, Hitler e mais um outro.

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