quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Ah, os imparciais...

Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.
2 Tm. 4: 3,4.

Nos tempos em que os homens tinham um mínimo de brio, conseguiam respeitar o ponto de vista do outro, sem se magoar e posar de “ofendida” - pois sabiam que ser um homem autêntico é ter uma autonomia moral e intelectual que poderia levá-los a defender posições que nem sempre seriam populares - poucos se importavam com a tal “imparcialidade”. O que realmente importava era o certo, o bom, o nobre, o verdadeiro. Tempo do debate público franco, das tribunas livres. O jornalismo nasceu assim: cheio de fúria, cheio de opinião, marcando seu terreno, fazendo valer seu posicionamento, por ridículo que fosse. Não ser assim era ser covarde, vendido.

Passam-se as épocas e logo a busca da imparcialidade tem seu valor reconhecido. Ser imparcial era se ater aos aspectos mais patentes dos fatos e tentar apresentá-los de forma mais isenta possível. Mesmo esquivando-se da tomada de posição, havia o respeito pela verdade do fato. Tal postura tem sua virtude, desde que se admita o inescapável: fatos são apreendidos valorativamente. Quem ainda faz isso?

Mas a coisa piorou. E a pecha de imparcial logo começou a recair sobre quem moldava seu discurso de forma a não consternar os representantes de cada uma das facções envolvidas num conflito ou acontecimento qualquer. Abundam tais covardes.

O imparcial de hoje é quem, ao falar ou escrever, evita a todo custo ferir os caprichinhos e hipersensibilidades dos defensores da mentalidade hegemônica. Sem pusilanimidade, é impossível agradar a bebês quarentões e moleques aposentados.

Tente fugir do consensão das grandes redes, dos grandes partidos, dos grandes agentes históricos que querem mandar no mundo. Tente arranhar o confortável arremedo de verdade que dá aquela falsa segurança e massageia o ego das massas. Você será o manipulador, o tendencioso, o parcial, o desonesto, o brigão, o fanático, etc. Rótulos odiosos o aguardam.