terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Cosmovisão cristã ou subserviência intelectual tosca?



Já está se tornando um personagem comum, típico em quase todas as igrejas, e principalmente, caricato. Mais ridículo ainda ficam seus trejeitos, cacoetes e mantras quando começa a liderar um "ministério", uma "rede" ou uma ONG (uau...). Senhoras e senhores, eu duvido que vocês já não tenham trombado com o novo intelectual evangélico brasileiro. Aquele rapazinho entre 25 e 30 anos de idade, que trabalha como professor, com meia-dúzia de livros lidos e uma pós-graduação mequetrefe que lhe confere a sensação e o prestígio entre os incautos para falar com autoridade sobre assuntos como sociologia, economia política, globalização, etc...

Como todo intelectual, ele é questionador. Se vê e quer ser visto como alguém que tudo questiona. Reclama da "alienação" alheia (sim, o esclarecido é ele) e está preocupado com as injustiças desse mundo e com a pobreza (sim, os egoístas são os outros).

O mais esquisito é que ele sempre está com nomes como Spurgeon, Lewis e Baxter na boca, criticando a forma com que a igreja (aliás, ele não pára de criticar a igreja) deixou sua fé manifestar-se unicamente na esfera pessoal, privada, e não a aplicou a todas as amplas questões que envolvem o convívio humano, a sociedade, a cultura, etc. Na verdade, ele não tem muito mais do que isso para falar. É esquisito porque esse intelectualzinho que vive de barba mal-feita comete exatamente o mesmo erro. Quanto mais falam em "cosmovisão cristã", em "visão integral" e afins, mais dá para perceber que ele entendeu muito pouco do que criam os autores que ele diz ser seus preferidos.

Na verdade, eles só citam desses autores aquilo que lhes interessa. O que nem sempre tem a ver com o "examinai tudo, retém o que é bom". Porque esse personagem tão comum aprendeu tantas coisas alheias não só ao que estes autores defendiam, mas à própria Bíblia, ao longo de sua vida, digamos, intelectual, que a última coisa esperável dessas figurinhas é essa visível incoerência e a fragmentação de seu conhecimento, não só digna de pena, porque ela é bem compreensível, tendo um fato claro a seu respeito: com a recusa metafísica característica da modernidade, houve a perda do sentido de conhecimento integrado, de uma cosmovisão cristã plena e articulada, na qual todas as principais teses convergem para os mesmas premissas, para os mesmos alicerces, numa epistemologia sólida, ao longo dos últimos dois séculos. Isso afetou também a igreja de Cristo, e num Brasil de educação precária, com os piores índices de desempenho educacional e com uma elite intelectual que taxa o Cristianismo, nos meios acadêmicos, como o pior conjunto de idéias que já apareceu sobre a Terra ao longo da história, não se poderia esperar outra coisa desse pelotão de presunçozinhos.

O resultado não poderia ser mais trágico: cristãos bem intencionados, mas sem o menor preparo para lidar com as questões as quais se propõem a lidar. Uma rápida passeada pelos blogs, pelos sites dos mil e um "ministérios" e das tais redes e ONG´s evangélicas, e um fato salta aos olhos: a "escolinha Jimmy Carter" deixou seus frutos (e frutas, mas deixa pra lá...). E o que é fazer parte da 'escolinha Jimmy Carter'? Simples: é, com a melhor das intenções, confiar no seu próprio entendimento, para, como cristão, dar apoio a tudo aquilo que não presta e se opõe à fé cristã.

É trocar figurinhas, idéias e apoio com partidos políticos abortistas e defensores do lobby gay. É, criticar os EUA para defender grupos de assassinos de cristãos, como os comunistas e os radicais islâmicos. É defender vastas intervenções do Estado na economia, e reclamar da pobreza. E por quê eles fazem isso? Porque o típico intelectualóide evangélico quer agir como cristão, mas aprendeu a ver o pobre como Marx. Quer ver a natureza como Deus vê, mas Stephen Jay Gould e os impostores do Greenpeace não saem de sua cabeça. Quer educação cristã em toda parte, mas louva Paulo Freire. Quer uma economia próspera, como tudo que está alinhado com os valores do Reino de Deus, mas aprenderam que a receita certa está em Keynes, ou, pior, em Lênin. Sonha com uma arte cristã mais rica, mas não conseguem admirar o que vai muito além do punk-rock e da literatura beatnik.

Querem um Brasil entregue a Jesus, mas agem como Robinson Cavalcanti, Rick Warren e outros militantes que se alinham e defendem instituições com agendas anti-cristãs na base, na essência, e em cada linha de seus estatutos.

Notem: eles sempre têm uma crítica à igreja na ponta da língua. E um louvor a qualquer Dawkins, Gandhi ou John Lennon da vida. Ele está tão a frente da "mentalidade atrasada que ainda há em nossas igrejas", que suas afinidades com os valores seculares não podem ser tidas como esclarecimento. É pura subserviência, é puro medo de desagradar seus ídolos mundanos.

J.P. Coutinho tempos atrás chamou este típico evangélico "preocupado com questões sociais", Jimmy Carter, de idiota útil. Útil aos que odeiam aquilo que Carter dizia defender. É difícil encontrar nome mais apropriado para esse imenso contingente de evangélicos brasileiros metidos a críticos, mas que nada mais são do que papagaios do Anticristo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Flusser e a remagicização do mundo pela fotografia

Vilém Flusser, em sua coletânea de ensaios Filosofia da Caixa Preta, apresenta análises que considera como elementares para a construção de um arcabouço filosófico sobre a fotografia e suas relações com a condição humana, a história da comunicação e das representações das cosmovisões, seja as mais antigas e tribais bem como no mundo moderno, no qual a fotografia é inventada, fato que Flusser considera tão importante como a invenção da escrita:

Textos foram inventados no momento de crise das imagens, a fim de ultrapassar o perigo da idolatria. Imagens técnicas foram inventadas no momento de crise dos textos, a fim de ultrapassar o perigo da textolatria. Tal intenção implícita das imagens precisa ser explicitada.

Flusser aponta essa relação texto-imagem como fundamental para a compreensão da história do Ocidente, relação de conflito, mas dialética, na qual cada pólo absorve aspectos do outro, e faz com que imaginação – capacidade de compor e decifrar imagens – e conceituação – capacidade de compor e decifrar textos – se neguem e se reforcem mutuamente. As conseqüências diretas na produção de conhecimento e na cultura de massa são indicadas pelo filósofo. A crise dos textos gera o naufrágio da História, e surgem as imagens técnicas para suplantar essa ruptura. Mas Flusser não deixa de apontar para o risco da total substituição dos textos por tais imagens, que apenas aparentemente não são frutos “da cabeça” de um artista que lida com imagens, como um pintor. O fotógrafo e seu aparelho também fabricam suas imagens, e é por passar a impressão que esse processo, na produção das imagens técnicas, é menor, menos intenso, que ele denomina o complexo aparelho-operador de caixa-preta. Alusão ágil, que vai do aspecto físico e mecânico da máquina fotográfica ao mistério das caixas pretas das aeronaves, que ao seu modo também registram fatos, sempre de uma forma por demais discreta. Flusser, com tal metáfora, focaliza a natureza e a atividade do aparelho fotográfico e o trabalho do fotógrafo.

Quem vê input e output vê o canal e não o processo codificador que se passa no interior da caixa preta.

Aqui, o filósofo tcheco-brasileiro dá a direção e a chave para a crítica:

Toda crítica da imagem técnica deve visar o branqueamento dessa caixa. Dada a dificuldade de tal tarefa, somos por enquanto analfabetos em relação às imagens técnicas. Não sabemos decifrá-las.

Filósofo completo, que soube encarar as fragilidades conceituais do cartesianismo, com uma teoria do conhecimento própria, forjada com ferramentas conceituais de alta precisão na obra A Dúvida, em que impõe aos entusiastas do trabalho de René Descartes pesadas e bem fundamentadas objeções ao de omnibus dubitare do qual tanto se valem os céticos modernos, Vilém Flusser não deixa de apresentar em Filosofia da Caixa Preta a força de sua gnosiologia. Livre de racionalismos, vale-se da racionalidade ao investigar o ato de fotografar, a câmera, a fotografia na folha, os aspectos físicos da produção das imagens técnicas e os aspectos psicológicos, semiológicos e sociais da recepção de tais imagens. Ou seja, mais que meramente racional, Flusser também é empírico, e assim concilia habilmente o potencial de escolas filosóficas que muito se digladiaram ao longo da história da construção do pensamento ocidental sem perceber os adeptos de uma ala e da outra que a solução para tal problema já estava presente onde tudo começou, na obra do principal estruturador da forma ocidental de pensar: Aristóteles. Também outras dimensões do conhecimento humano estão ali presentes, contribuindo. Ali está o sensório-motriz, e também as intencionalidades, as ações e paixões, o aspecto fronético do conhecimento, enfim.

Entretanto, com a humildade que aos grandes mestres pertence e o torna gigantes, Flusser não passa por cima da dúvida enquanto ferramenta para empreendimentos teóricos sérios: cada verbete do glossário que ele, didaticamente, apresenta ao início da coletânea de ensaios contém o sentido que ele mesmo avisa que é provisório. Flusser sequer tenta fincar estacas. Quer apenas mapear o terreno. Mas o faz com tanta propriedade que já não é possível, ao ver as bases, deixar de visualizar ao menos o “esqueleto” de uma casa que tantos outros almejam alocar tijolos e abrir janelas. Hábil arquiteto, Vilém Flusser sabe trazer à vista o arché de um novo tema para a filosofia como poucos filósofos. Com sua visão privilegiada, não pisa nos ovos das cobras que picaram os olhos de outros pensadores, que, cegos, podem comprometer a importante tarefa filosófica a que ele se propõe e a outros convida: decifrar as imagens técnicas – as imagens produzidas por aparelhos.

E é na força da crítica e da reflexão filosófica que Flusser acredita para que a humanidade possa superar a remagicização e manipulação imposta pelas imagens técnicas. “A crítica pode ainda desmagicizar a imagem”. A cegueira de alguns ele considera monstruosa e de antemão os tem como incapazes de cooperar para o empreendimento que propõe: para ele, o crítico pode estar também envolvido, também programado para uma visão mágica do mundo, vendo forças ocultas em toda parte. Desta forma, o próprio aparelho tornar-se-á uma força oculta: o jornal, o partido, a agência de publicidade,o parque industrial são deuses a serem exorcizados pela fotografia e tudo isso, para Vilém Flusser, não passará de hierofania de segundo grau. E dispara: “a crítica da Escola de Frankfurt é um bom exemplo desse paganismo de segundo grau, exorcismo do exorcismo”.

“A realidade da guerra do Líbano, a realidade ela mesma está na fotografia. Não pode estar alhures. Se o receptor da fotografia for para o Líbano ver a guerra com seus próprios olhos, estará vendo a mesma cena, já que olha tudo pelas categorias da fotografia. Está programado para ver magicamente”. E não só tal homem está programado – e entenda-se aqui programa como “jogo de combinação com elementos claros e distintos”, como os próprios fotógrafos e críticos. Esses elementos estão na estrutura do aparelho, nas teorias aplicadas na construção de todo o material necessário para se construir uma câmera, para se fazer fotografia. Papel, lentes, filmes, etc. Todo o processo de abstração dos eventos, transmutados na fotografia como mera cena, para Flusser, dependem da categorização que todos esses elementos irão gerar, que com uma boa sacada resume a condição digamos, cognitiva da fotografia enquanto tentativa de apreender algum dado da realidade:

Em fenomenologia fotográfica, Kant é inevitável.

Para Kant, conhecemos segundo podemos conhecer, mas não conhecemos a “coisa-em-si”. Flusser identifica na fotografia a metáfora mais precisa da incognoscibilidade do “númeno” defendida pelo baixinho de Köenigsberg. Com fotos e câmeras, tudo o que temos é “fenômeno”. Para superar a alienação que aparelhos com essa condição geraram nos homens da cultura massificada, que pensou o aparelho e agora pensa sob as categorias do aparelho (e Flusser lembra que o mesmo processo aconteceu no século XVIII – o “mecanicismo”) há que se debruçar sobre os quatro problemas essenciais da fotografia, que Flusser aponta: o do aparelho, que é “infra-humanamente estúpido e pode ser enganado”; os programas, que permitem a inserção de elementos humanos não previstos; as informações que implicam símbolos; e a imagem que implica magia. Os fotógrafos experimentais, segundo Flusser sabem que são os problemas da imagem, do aparelho, dos programas e das informações que devem ser resolvidos.

“Urge uma filosofia da fotografia para que a práxis fotográfica seja conscientizada” afirma Flusser, que, com tais reflexões e análises, remete à crítica de C. S. Lewis sobre a produção de conhecimento técnico do homem, que antes de libertá-lo, escraviza-o. “A conquista da Natureza pelo Homem, caso se realizem os sonhos de alguns cientistas planejadores, significaria que algumas centenas de homens estariam governando os destinos de bilhões e bilhões.” Para Lewis, a cada avanço tecnológico, a humanidade corre o risco de aumentar o domínio do homem pelo homem, e não necessariamente aumentar o domínio do homem sobre a natureza. Flusser parece ter uma visão muito clara disso, e considera a atividade filosófica como uma busca pela liberdade. No que concerne à fotografia, seu esforço neste sentido fica evidente na seguinte declaração: “a filosofia da fotografia é necessária porque é reflexão sobre possibilidades de se viver livremente num mundo programado por aparelhos. Reflexão sobre o significado que o homem pode dar a vida”.

domingo, 26 de outubro de 2008

Gente, tô voltando...

Logo, logo, volto a postar. Já tenho umas coisinhas quase prontas...
Enquanto isso, aqui e acolá, vou dando meus pitacos...

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Homeschooling em pauta: uma alternativa para sair do atoleiro

Já tramita no Congresso Nacional um projeto de lei cujo posicionamento dos parlamentares diante da matéria será um dos melhores testes para ver quem realmente está interessado em defender os “direitos do cidadão”, os direitos individuais e os direitos da família, pilar de toda e qualquer sociedade. É a legalização homeschooling ― a escolarização em casa ―, direito e prática milenar de várias etnias e culturas, com resultados excelentes em países como Austrália, França, Canadá, Estados Unidos, Japão, Suíça, Irlanda, entre outros.

Proposta pelo deputado Henrique Afonso, o PL-3518/2008, que assegura e protege o direito da educação escolar em casa, não só evidenciará quem no Congresso e na sociedade brasileira pode realmente falar em democracia (se você acha que não funciona, porque não dar a liberdade para quem acha que funciona?), como oferecerá aos estudantes brasileiros o direito de ter uma educação nos mesmos moldes da que foi ministrada a homens como Albert Einstein, Leonardo da Vinci, Thomas Edison, Winston Churchill, Charles Chaplin e outros gênios do século XX e de outras épocas.

A proposta reaparece em momento oportuno e tem seis grandes méritos: (1) visa restaurar no Brasil um direito histórico, (2) oferece uma alternativa de educação eficaz num país em que, quando comparado a outros, percebe-se que tem um dos piores sistemas de educação do mundo. Também sugere (3) a criação de um amplo e novo mercado: num país repleto de professores mal-pagos e desvalorizados, quando não desempregados, haverá a possibilidade dos docentes atuarem como preceptores e tutores, atendendo às mais diferentes classes sociais.

Editoras, escolas, universidades e instituições dos mais diversos perfis poderão criar programas de escolarização em casa e oferecer serviços de acordo com suas orientações intelectuais e filosóficas: com a escolarização em casa, o direito da família de escolher a direção educacional de seus filhos (seja religiosa, filosófica, ideológica ou cultural) pode ser respeitado plenamente, com os pais supervisionando tudo o que será ensinado às suas crianças e adolescentes, se não forem eles mesmos que ministrem as aulas.

Vale imaginar (4) o quanto as atuais instituições de ensino em atividade no país, e me refiro às privadas, às escolas particulares (quanto às públicas, não vejo, nem com a lei aprovada, a menor possibilidade de melhora) terão de melhorar e mostrar qualidade para que as famílias não acabem por escolher um método de escolarização muito mais barato, seguro, e, se executado com o devido cuidado, muito melhor.

Outro grande mérito da proposta (5) é o fim do monopólio do ensino “tamanho único” do MEC, num país e numa sociedade que tanto fala em “pluralidade” ― raramente, porém, referindo-se ao melhor e mais profundo sentido do termo. Sempre questionada entre os pedagogos, a necessidade do estudante de estar no mínimo quatro horas diárias numa escola também acabará, ao menos legalmente.

Não menos importante (6), o debate acerca do direito à escolarização em casa ressaltará a toda nação que, mais do que responsabilidade do Estado, cabe ao próprio indivíduo e às famílias desenvolver a sede pelo conhecimento, pelo crescimento intelectual e pelo preparo para as grandes dificuldades do mercado e da vida.

É claro que só à grande massa interessa toda essa liberdade, pois, mesmo com todos esses benefícios que a legalização da escolarização nos lares traz, a proposta já foi rejeitada pelo Congresso Nacional anteriormente, graças às velhas víboras que, afirmando falar “em nome do povo”, atribuem ao Estado o direito de determinar o que cada cidadão pode e deve estudar. “Liberdade”, para os tais, é obrigar a sociedade a se por de joelhos perante o Leviatã estatal.

As objeções que criam para o homeschooling normalmente são falácias toscas, dentre as quais se destaca a que afirma que a escolarização no lar atrapalha o processo de socialização da criança. Como se as escolas fossem os únicos ambientes capazes de colocar as crianças em contato com outras, como se associações de famílias que aderem ao homeschooling fossem incapazes de elaborar atividades recreativas e pedagógicas eficazes e variadas, e como se a submissão a um programa educacional comprovadamente falido e corrompido, como é o do MEC, fosse sinônimo de contato sadio com pessoas e com os conteúdos que, se bem apreendidos, podem fazer as próximas gerações tirarem o Brasil do atual atoleiro educacional, cultural e sócio-político.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

O vermelho e o negro

Tenho tentado evitar escrever sobre as asneiras e idéias criminosas da esquerda e da versão gospel de seus cúmplices: os tais "evangélicos progressistas", "cristão de esquerda", "socialistas cristãos" e afins. Quem se alinha com terroristas, narcotraficantes, teóricos e escritores que legitimam o uso da violência, da falsificação histórica, da segregação classista, do aborto e das matanças institucionalizadas que alguns paspalhos ainda teimam em dizer que "aquilo não é o socialismo real", será o quê, senão cúmplice?

Pois bem, novamente vou eu escrever sobre essa gente. A resenha do romance Le Rouge et le Noir, de Stendhal, fica para outro dia, até porque, ao contrário de muitos de nossos sabidões da nossa mídia anticristã, não escrevo sobre o que desconheço. Mas conheço bem esquerdistas e politicamente corretos, e alguns desses agora me aparecem afirmando que "os negros evangélicos" (sim, eles gostam de falar por todos, pelo povo, por mais que você, amigo negro, não os subscreva. "Democráticos", não?) EXIGEM um "pedido de perdão por parte das igrejas históricas". E claro que a revista Ultimato prontamente se fez de megafone para a ladainha dos ressentidos. Jesus mandou seus discípulos perdoarem 490 vezes o irmão ofensor num único dia. Já a “esquerda evangélica” prefere desenterrar agressões de mais de um século atrás e chegar ao limite ridículo e vulgar da sanha acusadora e auto-vitimizatória: exigir um pedido de perdão daqueles que são, em grande parte, os responsáveis pela libertação de suas próprias vidas de uma escravidão muito pior: a do pecado, a das trevas, a do príncipe deste mundo, Satanás.

É lógico que deve haver negros evangélicos que caem nessa lorota que só serve para jogar irmãos contra irmãos, e, com o frisson gerado, enfiar outras tantas esquerdices na cabeça dos evangélicos brasileiros. Burrice não tem cor nem preferência por quantidades específicas de melanina. A esses eu recomendaria a leitura de artigos dos negros Walter Williams e de Thomas Sowell, que, não sendo evangélico, sabe dos estragos causados pela agenda politicamente correta e o quanto é descabido o clichê "a culpa é do homem branco".

Graças à hegemonia cultural conquistada pelos fãs de Fidel, Lênin e Guevara no Brasil, os evangélicos brasileiros têm cada vez mais dificuldades em pensar em política e cultura em termos bíblicos e livres de ranços ditos "progressistas". Se a igreja brasileira não despertar e não se posicionar, não só continuará vendo alguns de seus segmentos serem feitos de idiotas por parte de inimigos declarados da fé cristã, como acabará por ver-se reduzida à irrelevância cultural, política e espiritual: o objetivo confesso de teóricos comunistas como Antonio Gramsci, mentor da estratégia da revolução cultural, e Giörgy Lukacs, que via a cosmovisão judaico-cristã como o principal obstáculo ao sucesso de sua mórbida ideologia.

A corrupção e a apostasia começam pelos detalhes, pelos aspectos considerados periféricos, pelos "pontos menores". Mas o desgaste que a infiltração esquerdista já gerou à igreja brasileira, sobretudo no que concerne ao zelo pela "sã doutrina", é de difícil mensuração, por ser gigantesco. Que o Senhor levante, em todos os cantos desse Brasil de muitas misturas, homens e mulheres prontos a desmascarar essas ideologias diabólicas forjadas por racistas confessos como Karl Marx, e reafirmem com toda a coragem que "em Cristo, não há bárbaro ou cita, judeu ou grego, circunciso ou incircunciso, mas Cristo é tudo em todos".

terça-feira, 22 de abril de 2008

Um breve parágrafo sobre uma velha mentira

O Livro de Atos é famoso por sua descrição de um sistema de propriedade comum na igreja de Jerusalém. Os apóstolos aceitavam doações – doações muito grandes – dos membros da igreja de Jerusalém. Essa prática tem sido usada pelos defensores do socialismo cristão como um exemplo a ser imitado pelo mundo moderno. Mas esses socialistas não citam as palavras de Pedro a Ananias com respeito à propriedade do último: “Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder?” (Atos 5:4a). A posse em comum da Igreja de Jerusalém era voluntária, limitada em Atos a essa congregação, e administrada por homens que tinham revelação especial da parte de Deus. O que isso tem a ver com o socialismo moderno, que é compulsório, imposto sobre todas as pessoas numa sociedade, e administrado por burocratas apoiados pela polícia? Nada!

Gary North, na introdução do livro Sacrifice and Dominion, traduzido pelo Felipe Sabino. Aqui.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Teísmo Fechado

EU SOU O QUE SOU. Êxodo 3:14

Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso. Apocalipse 1:8

Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Israel, não são consumidos.
Malaquias 3:6

Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das Luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança. Tiago 1:17

Desde o início, faço conhecido o fim, desde tempos remotos, o que ainda virá. Isaías 46:10

Grande é o Senhor nosso e mui poderoso; o seu entendimento não se pode medir. Salmos 147:5

Aquele que é a Glória de Israel não mente nem se arrepende, pois não é homem para se arrepender. I Samuel 15: 29

Bastou?

Esse é o meu teísmo. O Teísmo da Abertura... da Bíblia. É um teísmo aberto ao que a Bíblia fala. Um teísmo relacional, de profundo relacionamento com a autoridade infalível da Palavra de Deus, e de profundo relacionamento com o Deus da Palavra infalível. Pode ser chamado também de teologia “do processo”. Do processo de abrir as Escrituras, ler, entender, e se render à revelação inerrante ali presente, sem espernear. Tranqüilo.

Ser teísta de verdade, teísta clássico, é bom. A nossa metafísica é imbatível. Ser cristão então, nem se fala: é a melhor coisa do mundo.

Em teísmo fechado não entra mosca.

(Sim, este é um post sobre aquela bobagem, sem pé nem cabeça, chamada "teísmo aberto".)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Liberdade: auto-governo e governo civil

Por preço fostes comprados; não vos torneis escravos de homens.
1 Co. 7: 23

Problemas políticos, no fundo, são problemas religiosos e morais.
Russel Kirk

“Quem é livre e pratica um ato livre é quem responde pelo que fez”, afirmava Mário Ferreira dos Santos, que identificava no Renascimento a origem de um conceito abstrato de liberdade que proclamava a irresponsabilidade. Por isso, o filósofo considerava exagerados os elogios que alguns prestavam a esse período da história. Não só a responsabilidade é evocada na afirmação de Mário Ferreira, mas também a racionalidade, que, como ele bem observa nas páginas finais de sua obra Teoria do Conhecimento, é excludente - “ou é... ou não é”. É fácil perceber porque tirania e relativismos morais e epistemológicos sempre andaram juntos.

Aristóteles, cuja filosofia política nada mais é do que uma extensão do estudo da ética e da natureza humana, via as ações humanas livres como aquelas desprovidas de coação e ignorância; sem liberdade da vontade, para agir e para escolher, não há ação moral alguma. Como outros gregos, cria que o homem que conhecesse o bem não poderia deixar de agir de acordo com ele, enunciado que o cristianismo atacou com veemência em sentenças como o franco “se vós, que sois maus” lançado pelo próprio Cristo diretamente aos ouvidos de seus seguidores no Sermão do Monte, e “faço não o bem que quero, mas o mal que não quero fazer, esse faço o tempo todo”, do apóstolo Paulo, presente na carta que é uma das mais importantes e brilhantes sínteses da fé cristã, endereçada à igreja que vivia em Roma.

Portanto, a mais ampla autodeterminação imaginável não deve satisfazer ao cristão como conceito pleno e verdadeiro de liberdade. Tampouco será a ausência de governo que a proporcionará, mas sim o governo certo. Fala-se nessa palavra, “governo”, e já se pensa no governo civil: monarquias, repúblicas, parlamentos, presidentes, etc. Rousas John Rushdoony se lamentava disso, e lembrava que, antes de tudo, governo é auto-governo e que essa associação equivocada bem denotava a mentalidade de uma geração cuja sanha de seu respectivo governo civil era ser a única e suprema forma de governo sobre os homens.

Ao observar a história e se ater às grandes especulações filosóficas sobre o poder temporal, infere-se que boas definições de liberdade política são aquelas que a apontam como resultado da mútua resistência entre forças políticas adversárias (estado versus igreja/religiosos versus intelectuais, por exemplo), ou como fruto de um ambiente no qual valores como a sacralidade da vida, a igualdade jurídica entre os homens e a responsabilidade pessoal estejam firmemente consolidados. Todos estes valores caros aos cristãos, e que geraram ótimos resultados políticos e culturais onde a cristianização das populações foi mais profunda.

Neste sentido, Rushdoony, como profundo conhecedor da cultura e da Bíblia, ainda dizia: “para se ter um governo civil livre é necessário ter em primeiro lugar homens cujo maior desejo é o auto-governo responsável sob Deus”. Outros apologetas da liberdade política que a viram apenas como feliz conseqüência de diversos fatores, seguiram a mesma linha: “quanto maior for o controle dos homens sobre si mesmos, menor será a necessidade de controles externos”. Não espanta que, com sua visão pessimista (muito mais precisa, porém, do que a de muitos cristãos moderninhos) da natureza humana, Hobbes defendia um governo absolutista. Talvez o mais grotesco de seus equívocos foi o de defender o controle despótico justamente de um único... ser humano.

A Bíblia fala que “onde o Espírito de Deus está, aí há liberdade,” - versículo que deve servir de alicerce para toda a construção teórica verdadeiramente cristã sobre política – e que o discípulo de Cristo é “templo do Espírito Santo”. O cristão autêntico sabe sobre o que se funda a liberdade, sabe onde ela começa. “Se o Filho, vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. Não é à-toa que são justamente os cristãos que dão ouvidos a teses que tornam o governo civil mais importante e mais poderoso do que ele realmente deve ser, os mais propensos a abrir mão do padrão de auto-governo exposto nas Escrituras. Então, chamam seus irmãos de legalistas, enquanto defendem os projetos totalitários de incrédulos e escarnecedores. Da mesma forma, quando aderem aos credos da “teologia do processo” e do “teísmo aberto”, a um só tempo relativizam a soberania de Deus e se tornam discípulos diretos ou indiretos de Hegel, coincidentemente, o papa da estatolatria moderna.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Cristãos, lembrem-se: ‘noblesse oblige’

É fácil estar atento à suposta sofisticação dos mais variados bens de consumo em seus detalhes. Não tenho dúvida de que qualquer cidadão comum conhece ao menos uma pessoa que não dedique grande parte do seu potencial intelectual e cognitivo ao glamour de certos artefatos ou às qualidades de certas tranqueiras criadas para facilitar a vida em algum aspecto.

Quem já perdeu horas assistindo amigos discutindo as proezas de um relógio Tag Heuer, ou dos acessórios opcionais de uma nova motocicleta, sabe de qual espécie de frivolidades e aridez mental me refiro. Não é preciso dizer que, entre cristãos, a coisa toda fica ainda mais ridícula e irritante.

Difícil parece ser, atualmente, imaginar a existência daquelas sutilezas presentes nas mais nobres realizações humanas, advindas dos grandes atributos da imaginação e do pensamento racional saudável, quando este se atém à busca de tudo aquilo que é belo, bom e verdadeiro - e que riqueza alguma compra. Aí está talvez a característica mais notória do filisteu (“o bárbaro imerso na cultura”, segundo Richard Weaver): o deslumbramento por tudo aquilo que facilita a vida do homem, gerando conforto e status, acompanhado da repulsa a toda expressão capaz de clarificar os aspectos mais profundos da condição humana. Quando “bom gosto” e “estilo” se reduzem à mera capacidade de se enquadrar em certos padrões de consumo, os homens já perderam de vista o que, de fato, os torna humanos. O apego ao status e o encanto “coisista” nada mais são do que as preocupações mais básicas e comezinhas, comuns a qualquer animal, numa polaridade distorcida e potencializada.

Esses e outros sintomas de alienação, contudo, não afetam apenas às elites ignaras e os novos ricos opulentos. Tanto o “idiota flamejante” na Mercedes-Benz “com cascata artificial e filhote de jacaré”, do qual falava Nélson Rodrigues, como o pessoal das periferias, sem estudo e entretidos com asneiras proferidas por participantes de reality-shows, estão sempre correndo o risco de dar mais um passo adiante no processo sobre o qual Julian Marías alertava: o cavalo não se descavaliza, mas o homem sim, este pode desumanizar-se.

Weaver também observou que

Uma das mais estranhas disparidades da história é a encontrada entre o sentimento de abundância das sociedades mais antigas e simples e o sentimento de escassez das sociedades atuais, ostensivamente ricas.

E nada pior do que tentar consertar um erro com outro. Qualquer pessoa hoje, enjoada do consumismo abobalhado, logo se torna vítima da “engenharia da culpa” de que as ideologias coletivistas se valem com diabólica habilidade. Reinterpretando a história após evocar antropologias e axiologias auto-indulgentes e falaciosas, estas ideologias têm sido formidáveis incentivadoras de uma desumanização brutal. Otto Maria Carpeaux foi incisivo: “o fascismo propaga-se e vence através das classes médias, das quais é a expressão triunfal”. E fascismo, que fique claro, tem e sempre teve tudo a ver com coletivismo, relativização de valores, revolução, anti-cristianismo e estatismo brutal. Qualquer semelhança com o consenso cultural e político vigente no Brasil de hoje - anticristão e socialista até a medula - não é mera coincidência.

E aí estão, pomposos e melodramáticos, magnatinhas e intelectuais, todos falando em nome do povo, incapazes, porém, de riscar o verniz de suas unhas para ajudar os necessitados sem mostrar suas faces em campanhas com mensagens lacrimogêneas. O cinismo do altruísmo terceirizado (“é função do estado...”) e dessa caridade anunciada aos quatro ventos choca e denota o quão falsificadas estão as virtudes entre os que exercem influência sobre a mentalidade das massas. Que cristãos repitam essas bobagens, isso só evidencia que eles próprios perderam de vista os fatos que a graça comum e a criação divina apontam com tanta clareza, os quais mesmo tantas das melhores cabeças não-cristãs perceberam. Ao cristão, o filistinismo é ainda mais vergonhoso e está se tornando cada vez mais comum. Portanto, a troca do falso pelo verdadeiro é cada vez mais urgente e imprescindível.

Que os filhos do Altíssimo acordem. Que os autênticos detentores da Revelação, resgatados pelo amor de Cristo e então direcionados pelo Espírito Santo para buscar “toda boa dádiva e dom perfeito”, que vem de Deus, parem de viver como filisteus, reflitam, façam jus à sua condição, e ajam. Num tempo de elites bárbaras, em que o sentido de autêntica nobreza simplesmente perdeu-se, vale lembrar sempre: noblesse oblige. A condição de nobreza traz suas obrigações. O cristão reinará com Cristo. Que viva com a honra de um príncipe de um reino que jamais se acabará desde hoje, colocando todas as suas potencialidades a serviço da obra de Deus, e todas as suas convicções em harmonia com Sua Palavra.

C. S. Lewis foi um homem que, com todas as suas falhas, aprendeu que devemos amar a Deus não só com a alma e com todas as nossas forças, mas também com todo o nosso entendimento. Na obra Cristianismo Puro e Simples (Mere Christianity), foi contundente:

Deus não detesta menos os intelectualmente preguiçosos do que qualquer outro tipo de preguiçoso. Se você está pensando em se tornar cristão, eu lhe aviso que estará embarcando em algo que vai ocupar toda a sua pessoa, inclusive seu cérebro.

Sem entendimento, e sem buscar a presença de Deus – pois quem realmente ama sempre quer estar perto - , cristão algum estará à altura da missão que lhe cabe. Estará conformado a este século e, sem contato com a sua Palavra - o Logos, aquele sem o qual “nada do que foi feito se fez”-, não poderá ter “a mente de Cristo” e “andar por modo digno do evangelho”, sendo, de fato, “sal da terra e luz do mundo”.

E o problema todo é muito mais do que simplesmente ministerial, sacerdotal, para cada um dos filhos de Deus. Também é muito mais do que político, econômico, cultural, ideológico ou civilizacional.

São vidas que estão em jogo. E Deus ama essas vidas.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Ah, os imparciais...

Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.
2 Tm. 4: 3,4.

Nos tempos em que os homens tinham um mínimo de brio, conseguiam respeitar o ponto de vista do outro, sem se magoar e posar de “ofendida” - pois sabiam que ser um homem autêntico é ter uma autonomia moral e intelectual que poderia levá-los a defender posições que nem sempre seriam populares - poucos se importavam com a tal “imparcialidade”. O que realmente importava era o certo, o bom, o nobre, o verdadeiro. Tempo do debate público franco, das tribunas livres. O jornalismo nasceu assim: cheio de fúria, cheio de opinião, marcando seu terreno, fazendo valer seu posicionamento, por ridículo que fosse. Não ser assim era ser covarde, vendido.

Passam-se as épocas e logo a busca da imparcialidade tem seu valor reconhecido. Ser imparcial era se ater aos aspectos mais patentes dos fatos e tentar apresentá-los de forma mais isenta possível. Mesmo esquivando-se da tomada de posição, havia o respeito pela verdade do fato. Tal postura tem sua virtude, desde que se admita o inescapável: fatos são apreendidos valorativamente. Quem ainda faz isso?

Mas a coisa piorou. E a pecha de imparcial logo começou a recair sobre quem moldava seu discurso de forma a não consternar os representantes de cada uma das facções envolvidas num conflito ou acontecimento qualquer. Abundam tais covardes.

O imparcial de hoje é quem, ao falar ou escrever, evita a todo custo ferir os caprichinhos e hipersensibilidades dos defensores da mentalidade hegemônica. Sem pusilanimidade, é impossível agradar a bebês quarentões e moleques aposentados.

Tente fugir do consensão das grandes redes, dos grandes partidos, dos grandes agentes históricos que querem mandar no mundo. Tente arranhar o confortável arremedo de verdade que dá aquela falsa segurança e massageia o ego das massas. Você será o manipulador, o tendencioso, o parcial, o desonesto, o brigão, o fanático, etc. Rótulos odiosos o aguardam.