terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Esquerda, Direita e Cristianismo

Publicado em 15/12 no site Mídia sem Máscara.

Conversar sobre política com meus irmãos cristãos, confesso, para mim tem sido um enorme desprazer há um bom tempo. Desinformação, ignorância presunçosa, desconhecimento histórico e moralismo bobo imperam, mesmo entre autoridades eclesiásticas conhecidas. O resultado desse triste quadro pode-se perceber à distância: posicionamentos mais díspares e estapafúrdios, que vão desde o ideologismo adolescente ao fisiologismo mais raso. O desdém pelo assunto, por parte de alguns pretensos espiritualóides, também me assusta.

Percebo que a maioria dos cristãos não sabe que o dualismo direita x esquerda é oriundo da valorização da dimensão sóciocósmica, terrena, em detrimento da espiritual, da relação Deus x homem. Cientes disso, os discípulos de Jesus do século XXI devem assumir uma posição muito crítica em relação à política, ao poder, e aos detentores do poder temporal. Afinal o Mestre foi muito claro: Meu reino não é deste mundo.

É preciso saber que entre os que valorizam mais a dimensão sóciocósmica do que a espiritualidade há uma cizânia que remonta o Renascimento e gera as seguintes dicotomias: historicistas versus naturalistas, humanidade versus cosmos, pensamento versus experiência, leis da razão versus leis físicas, mecanicismo versus vitalismo. Na filosofia, racionalistas versus empiristas. Em “Letras” e “Ciências” dividia-se a universidade fundada por Luís XIV.

Esta tensão, este antagonismo, sem buscar em Deus sua resolução, é, desde aquele período, o principal eixo da história do pensamento ocidental. No século XX, na esfera política, ele aparece na disputa entre capitalistas e comunistas, mas começou a se desenhar na Revolução Francesa.

O banho de sangue, advindo da ascensão do pensamento político modernista, ocorrido nos os últimos 200 anos, mostra o equívoco que é para o cristão escolher um desses lados numa atitude positiva. É preciso estar atento, pois socialistas, liberais, socialdemocratas, entre outros, sempre buscaram respaldo moral e legitimidade no Cristianismo; o fundamentalismo marxista pagou caro pelo ateísmo declarado.

Entretanto, parece estar na moda, entre os cristãos brasileiros, se dizer socialista. Dessa forma, atribuem a todas as variantes ideológicas mundanas com quais o termo “socialista” se associa, as qualidades e prerrogativas que são próprias do Cristianismo. É notório que essas ideologias usurpam a soliedariedade cristã, mas criminalizam toda a moralidade bíblica, como se o cultuadores do poder do Estado tivessem uma moral indiscutivelmente superior à dos cristãos. Basta uma rápida lida nos jornais para ver o quanto aquilo que hoje é considerado portador do legado judaico-cristão é encarado como algo opressivo, dominador e indiferente. Exemplos? Israel, o Vaticano, os EUA, o capitalismo, etc.

A maioria dos cristãos brasileiros atualmente não vê essas obviedades, pois, desprovidos de uma visão histórica mais abrangente e sem nenhum contraponto, foram doutrinados num ambiente onde a hegemonia esquerdista nos jornais, centros pensantes, artes e economia é devastadora.

Nesse contexto surgem os pastores socialistas, que apóiam invasões de terra mas não se dizem relativistas (como se o direito a propriedade não estivesse lá no Pentateuco), os teólogos que lêem Marx e Nietzsche em busca de “novos” pressupostos e outros cristãos que, em busca de equilíbrio, se dizem “de centro”. Imagino que quando eles lêem o livro de Jó e se deparam com seu sofrimento dizem: - Bem-feito pra esse latifundiário!

Nunca vi nenhuma palavra da Bíblia contra o comércio, contra a economia de mercado.O que vi foi apenas uma advertência: Balança enganosa é abominação ao Senhor. Portanto, o que o cristão assumido deve ter em mente é que o pragmatismo do mercado deve ser amenizado por uma forte influência do Cristianismo na sociedade, não com intervencionismo estatal de qualquer espécie. Nada há na Bíblia que o legitime. É Jesus que expulsa os vendilhões do templo. Não a guarda de César. É o amor ao próximo que supre as carências dos mais pobres, não a subserviência covarde a quem empreende “revoluções culturais” e cobra tributos exorbitantes – que se não pagos entrega aos leões seja quem for.

Já contra o Estado e o poder político instituído – a suprema obsessão dos socialistas - vejo inúmeras advertências bíblicas. Uma das mais notórias é quando o Espírito Santo advertiu os magos para não informarem a Herodes onde se encontrava o recém-nascido Jesus. Outra é quando por meio do profeta Samuel, os judeus são advertidos para não desejarem a configuração do seu quadro político semelhante ao dos povos que não conheciam a Deus. Os cristãos cometem erro parecido atualmente. Em vez de apoiarem uma influência cada vez maior do cristianismo na política e na configuração jurídica dos países onde vivem, impondo franca resistência à secularização de todos os aspectos da vida, cada vez mais submetida à política, colhem da prateleira das ideologias mundanas os ingredientes para preparar suas indigestas opiniões sobre política. Muitas vezes apoiando grupos que defendem premissas totalmente contrárias aos valores do Evangelho. Transformam, assim, suas justificativas de cunho pseudoteológico em elucubrações que beiram o blasfemo e correm o risco de entregar a César o que não lhe pertence: suas próprias almas.


Leia também:
Os evangélicos brasileiros e as causas do Anticristo
Política à luz da Bíblia
Agitação política e miséria espiritual
Robinson Cavalcanti: sempre socialista, nunca conservador

domingo, 4 de novembro de 2007

Estado, fé cristã, e a tal “homofobia”

Com tanta libertinagem e relativismos de toda ordem legitimados culturalmente, não vejo porque tanto medo da tal “homofobia”, palavra que, em seu sentido estrito, significa “medo do igual”, “medo do semelhante”, ou “medo do mesmo”. Sabe-se que tal rótulo foi inventado só para ser aplicado a qualquer pessoa que faça a mínima objeção às pretensões dos gayzistas, mas como a grande mídia prontamente aderiu à “causa”, tem até evangélico dito “esclarecido” (esses que lêem a Ultimato, sabe?) taxando uns e outros de “homofóbico” por aí.

Acesso o portal Terra, o UOL, o Globo.com ou de qualquer outra grande rede de comunicação ou jornal e lá estão as páginas destinadas ao público GLBT, sempre com o beatiful people por perto, repetindo os slogans do “movimento”. Afinal, pega bem, soa moderninho, tolerante e “conscientiza” as pessoas. Aí fico sabendo das gordas verbas que a ONGs que “defendem os direitos” desse pessoal recebe. Vejo a sanha com que querem aprovar o inconstitucionalíssimo projeto de lei conhecido como PLC 122/2006, que simplesmente criminalizará a fé cristã e colocará a Bíblia de uma vez por todas no Index Librorum Prohibitorum da esquerda e da “razão de estado”. Fica fácil de ver quem são os verdadeiros preconceituosos nesse rolo todo.

Sem o cristianismo, que sempre afirmou a responsabilidade do indivíduo em relação a seus atos — que a salvação é pessoal, que cada homem dará conta de si, e apenas de si diante de Deus, sendo um dia julgado por suas obras, e não pelas de outrem —, todo esse anseio por liberdade e todo o estamento jurídico atual que visa defender a dignidade e os direitos de cada pessoa, sobretudo ao direito de viver de acordo com suas próprias convicções, não teria legitimidade nenhuma. Sem a fé cristã, a liberdade azul dos iluministas simplesmente não existiria. Não há lei positiva sem um alicerce num código moral absoluto, que só poderia derivar de um Legislador Absoluto. Infelizmente, tal questão é por demais metafísica para os que reduzem suas convicções aos arranjinhos retóricos mais badalados da semana.

O problema começa quando se encara o estado como legislador absoluto. Aí começa o “divida e reine” dos políticos e burocratas. O poder temporal quer sempre ser maior, pois a natureza humana é viciada em poder e quanto mais determinados setores da sociedade lutarem entre si, maiores prerrogativas o poder estatal atribuirá a si mesmo. Afinal, dirão os burocratas, ali estão eles para manter a lei e a ordem. O que até é verdade. Mas difícil será vê-los admitir que seus deveres não vão muito além disso. A notória polarização e recrudescimento do debate sobre o projeto de lei 122/2006, com “religiosos” de um lado e a facção GLBT de outro, já é a primeira vitória do estado: não apenas sobre ambos os grupos, mas sobre toda uma sociedade ávida por liberdade e que é atualmente sufocada por intervenções estatais das mais violentas. “Ah, mas não é isso que eu percebo, Edson”. Pois é, e é justamente isso que faz o totalitarismo tão forte atualmente. Não percebemos, nos acostumamos e o consideramos a coisa mais normal e “democrática” do mundo.

Nem preciso dizer que aprovada a lei, o problema só irá se agravar. Piadas sobre boiolas, sapatas e afins surgem em qualquer conversa de forma tão espontânea que ninguém se dá conta que trata-se de um tipo específico de gracejo que logo poderá estar sobre a mira da lei. Já os “crimes de ódio” contra gays, hoje, no Brasil, são raríssimos. Se não fossem, veríamos notícias todos os dias na tevê, porque o caso de amor entre a mídia de massa e a nomenklatura gayzista está aí, a olhos vistos. E, convenhamos, ninguém sai do restaurante, do café ou da loja só porque entrou meia-dúzia de rapazes com o timbrezinho da voz um pouco “mole” de mais. Aprovado o projeto 122/2006, o povão, que nada entende de lei, na dúvida, vai preferir ir para outro estabelecimento. “Vai que a gente fala alguma coisa que as bibas não gostem”. Talvez assim a militância gayzista veja que o tiro sai pela culatra. E é muita ingenuidade, para um miúda parcela da população, querer ver sua “causa” sendo “respeitada” por meio de uma lei que criminaliza católicos, evangélicos, judeus e muçulmanos de uma só vez, num país em que é praticamente impossível não ter um parente ou amigo que professe uma dessas crenças. Gente, vamos parar de frescura!

O que falo para o militante gay é o seguinte: “se você quer ser gay, o problema é seu. Mas não me obrigue a pensar que sua condição é tão natural quanto a heterossexual. Sem heteros, não haveria gays. Não haveria mais humanidade. Sem gays... bem, sem gays, deixo por conta da sua imaginação”. Logo, a heterossexualidade e a homossexualidade não podem estar em pé de igualdade juridicamente. Contudo, acredito que a condição pecadora da humanidade vai além da questão sexual. E falo para o cristão: “se você está mais preocupado em recriminar o gay do que em afirmar que há um caminho melhor para ele, você, como ele, terá um dia de prestar contas a Deus”. Mas é justamente isso que o gay militante quer impedir o cristão de fazer, por meio desse projeto de lei absurdo. E o que restará, então: as mútuas tentativas de criminalização. “Guerra de todos contra todos”, ao melhor estilo hobbesiano. Não vejo, portanto, melhor alternativa para a turma GLBT “engajada” do que sossegar o facho. Até porque tudo indica, e aí está o exemplo dos líderes gayzistas Luiz Mott e Denílson Lopes com seus artigos e palestras, que, legalizado o estatuto superior da opção homossexual perante a fisiologia heterossexual do ser humano, o próximo passo será legalizar a pedofilia. Com “respeitados” professores defendendo sexo entre homens e meninos, alguém vai ter coragem de enviar seus filhos à escola?

Enfim, vivemos tempos duros. Mas um dia, constituição nenhuma terá algum valor. Só a imutável, eterna e absoluta lei do Criador de todas as coisas. De nada adiantarão passeatas e chiliquinhos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Luther – W. H. Auden

Pessoal, poesia educa. Ensina a escrever, a falar, trabalha com toda a nossa capacidade intelectiva: imaginação, memória, raciocínio, etc. Toca, ataca, apascenta, deslumbra, sempre. É uma pena ver que a maioria das pessoas, com uma mentalidade cada vez mais barbarizada, fica indiferente a toda e qualquer forma de arte mais elevada, preferindo as inanidades da cultura de massa. Mesmo entre os cristãos, pessoas cuja coleção de livros que dá direção para suas vidas, a Bíblia, estando repleta de poesia, infelizmente a coisa não é diferente.Fiquem com uma (já citada aqui no blog) de um dos meus poetas favoritos, W. H. Auden. Abaixo vai a tradução/versão de João Paulo Paes. Fui.

Luther

With conscience cocked to listen for the thunder,
He saw the Devil busy in the wind
Over the chiming steeples and then under
The doors of nuns and doctors who had sinned.

What apparatus could stave the disaster
Or cut the brambles of man´s error down?
Flesh was a silent dog that bites its master,
World a still pond in which its children drown.

The fuse of Judgement spluttered in his head:
´Lord, smoke these honeyed insects from their hives.
All works, Great Men, Societies are bad.
The Just shall live by Faith...’ he cried in dread.

And men and women of the world were glad,
Who´d never cared or trembled in their lives.


Lutero

Consciência pronta a ouvir o ronco do trovão,
Viu o Diabo no vento, todo atarefado
Entrar em campanários, passar sob o vão
Da porta de freiras e doutos em pecado.

O desastre, de que modo evita-lo, como
Aparar o espinheiro dos enganos do homem?
Carne, um cão silente a morder o seu dono;
Mundo, um lago mudo que os filhos seus consome.

O estopim do Juízo queimava em sua mente:
“Fumiga esta colméia de abelhas, Senhor:
Tudo – obras, Sociedades, Grandes Homens – mente.
O Justo viverá pela fé...” gritou, temente.

E quem, homem e mulher do mundo, o temor
Ou zelo nunca atormentou, ficou contente.

sábado, 8 de setembro de 2007

Cientificismo no ar: a nova ordem da ignorância mundial


O cientificismo permanece até hoje como um dos poderosos movimentos gnósticos na sociedade ocidental; e o orgulho imanentista na ciência é tão forte que até mesmo os ramos especiais da ciência dei­xam sedimentos tangíveis nas variantes da salvação através da física, da economia, da sociologia, da biologia e da psicologia.
Eric Voegelin


Na edição de Veja desta semana, na matéria “Graças a Deus – não a Darwin”, o jornalista Marcos Todeschini, finalizando matéria na qual escolas adventistas eram criticadas por ensinarem o criacionismo, não se conteve: “Falta ainda a essas escolas, no entanto, entender que o criacionismo foi superado pela ciência há mais de um século.” E a naturalidade com que William Bonner anunciou a descoberta de nove dentes de gorila na Etiópia como um “elo perdido” na “cadeia evolutiva” do homo sapiens escandaliza apenas aqueles que ainda não se acostumaram com o amontoado de lorotas cientificistas divulgado todos os dias por diversos veículos de comunicação, especializados ou não. Quem viu a chamada do Jornal Nacional no dia 22 de agosto e está minimamente a par do debate notou: Bonner fez tudo o que Richard Dawkins manda: tratou a evolução como um fato, e não como uma especulação teórica.

Parece que não basta mais à Rede Globo soar ridícula no Fantástico. O Jornal Nacional também deve fazer sua parte. A editora Abril, por sua vez, ao permitir que bobagens como as de Todeschini e as da revista Superinteressante sejam publicadas, não fica atrás em matéria de caipirice.

Se, por um lado, o que se vê na mídia de massa sobre ciência nada mais é do que a afirmação de enunciados muito contestados, como os da datação geralmente aceita (DGA) para a idade do planeta e para o período em que viveram seres hoje extintos, por outro, teorias e fatos comprovados que põem em cheque a fé cientificista são simplesmente ignorados. Nunca se comenta, quando se fala em evolucionismo, afirmações como a do eminente defensor da evolução Stephen Jay Gould de que as “árvores evolutivas que enfeitam nossos livros só têm dados nas pontas e nos nós de seus galhos; o resto é dedução, por mais que razoável que seja, não evidência de fósseis”. Porém, mal se descobre uma ossada, e já se ouve a expressão “elo perdido” - falácia que pressupõe uma linha evolutiva com algumas lacunas, quando na verdade tais linhas sequer existem, como confessa Gould.

Diante disso, pode-se concluir: a modelagem do imaginário coletivo em direção ao agnosticismo e à descrença na religião revelada está em estado tão avançado que tratar uma dessas teorias como fato passou a ser um procedimento automático. E pior: confere ao seu emissor a pecha de “esclarecido”, palavra que, nesse contexto, define o crente no velho mito da luta entre religião e ciência, uma das maiores e mais daninhas farsas da história do pensamento ocidental, cujo resultado trágico ainda não pode ser mensurado, mas que em Dostoiévski já era possível detectar sua natureza macabra: “se Deus não existe, tudo é permitido”.

Interessante é que se você perguntar a um desses “esclarecidos” da mídia de massa o que é ciência, é quase certo que ele não saberá responder ou falará asneira. Quanto a isso, o físico escocês James Clerk Maxwell já alertava: “uma das provas mais difíceis para uma mente científica é conhecer os limites do método científico”. Se para tais mentes há essa dificuldade, imagine entre pitaqueiros profissionais, nerds e bobocas diplomados pelo... MEC. Assim fica fácil entender como a redução da pesquisa científica a uma ideologia burra e teofóbica vai ao ar e faz a cabeça da já confusa patuléia telespectadora. Para piorar, o fato é que faz parte do jogo dos cientificistas omitir o significado preciso do que seja ciência – a pesquisa experimental materialista, na definição concisa e certeira de Olavo de Carvalho. Logo, não será na grande mídia que o cidadão comum aprenderá certos conceitos fundamentais sobre a ciência, e tampouco conhecerá as teorias, descobertas e fatos que não só confrontam, mas que em muitos casos destroem na base a maior parte das presunções cientificistas.

Portanto, vale enumerar alguns conceitos e informações que a mídia cientificista omite do grande público.

Sobre o que a ciência pode falar ou não:

A pesquisa experimental materialista - mais conhecida como “ciência empírica” ou “ciências operacionais” - é, de acordo com Gene Calahan, “a tentativa de abstração dos dados experimentais na obtenção de uma relação mecânica universal entre as quantidades mensuráveis”. Não pode reduzir os fenômenos às suas relações mecânicas, nem falar do que algo realmente é. Muito menos afirmar sobre o que é certo ou errado do ponto de vista moral, como muitos que tentam embasar premissas éticas relativistas na Teoria do Caos, no Princípio da Indeterminação de Heisenberg ou na Teoria da Relatividade de Einstein com interpretações forçadas.

A ciência das origens, que investiga a origem, o início e por quais processos o universo teria passado para ser como é, não se enquadra como empírica, e sim como ciência forense, com princípios, regras e métodos diferentes de investigação, pois não lida com aspectos quantitativos e repetíveis, e sim com eventos singulares do passado.

Nenhum conhecimento dessa ordem tem caráter definitivo, e suas premissas, alicerces epistemológicos e conclusões devem passar sempre por um crivo filosófico rigoroso.

Sobre a DGA:


O apego à Datação Geralmente Aceita pelos cientificistas, sobretudo por parte de darwinistas, advém do fato que milhões de anos são uma condição necessária para a macroevolução. Mas para se endossar a DGA é preciso ter confiança cega em três coisas quais não há como provar: (1) que é possível saber as condições originais do artefato que terá sua idade medida – o quanto o mar tinha de sal, ou se isótopos de chumbo não existiam no princípio, por exemplo; (2) que não houve contaminações na amostra, capazes de alterar a taxa de decomposição; e (3) que a taxa de decomposição ao longo dos séculos foi exatamente a mesma.

Do contrário, a data resultante estará errada.

Sobre a natureza religiosa da formulação darwinista

Não há problema algum numa teoria por ter uma fonte inspiracional religiosa. O que uma teoria dita científica precisa ter é apoio científico possível ou real. Tal como o criacionismo, inspirado no Gênesis bíblico, o mito da evolução era uma antiga crença gnóstica que só por meio de Charles Darwin tornou-se hipótese científica, e como mito gnóstico é que grande parte de sua força pode ser explicada. Os tradicionais ataques à fé cristã perpetrados por darwinistas não passam de uma conseqüência natural desse fato, para quem conhece minimamente a história do gnosticismo na cultura ocidental e sua transmutação moderna nas mais variadas ideologias. Não é à toa que cientificismo, marxismo e nazismo sempre partilharam das teses evolucionistas e da fúria contra o legado cultural judaico-cristão.

Sobre teorias alternativas ao evolucionismo, como a do Design Inteligente:

Pouco espaço se dá na mídia de massa aos defensores da Teoria do Design Inteligente (TDI). Três são os motivos: as severas objeções às teses evolucionistas, o fato das suas especulações favorecerem o teísmo e a associação indevida da TDI com o criacionismo.

EM TEMPO: Nem o evolucionismo, nem o criacionismo, nem a TDI, como hipóteses científicas, poderão um dia provar que estão certas, não só pelas próprias limitações do método científico, como por objeções sérias de ordem filosófica: observar o mundo criado e pensar num Criador por analogia é válido. Já tentar provar a existência de Deus, ou do "Designer Inteligente", em laboratório, esquadrinhando fragmentos da criação é ridículo, pois a causa, o propósito e o sentido das coisas criadas estão sempre além delas mesmas. Nem se nega a existência e a necessidade dEle pela presença de combinações naturais bem-sucedidas que supostamente O descartariam. E quantas dessas combinações seriam necessárias para termos uma palmeira, uma ameba ou um elefante? A tese evolucionista esbarra no problema das séries infinitas, e para superá-la deve se ter uma capacidade equivalente a de dizer quantos pontos há numa reta.

Sobre evidências históricas e arqueológicas da veracidade dos relatos bíblicos:

Afirma Nelson Glueck em seu Rivers in the Desert: “nenhuma descoberta arqueológica jamais contradisse uma referência bíblica. Várias descobertas arqueológicas foram feitas que confirmam de forma geral ou em detalhes exatos as afirmações históricas na Bíblia.”

A confirmação de relatos bíblicos por fontes não cristãs, sobretudo sobre a vida de Cristo, também são abundantes, mas, entre fatos históricos comprovados e teorias capengas, a mídia cientificista prefere sempre produzir documentários sobre essas últimas.

Sobre o Princípio Antrópico:

Para que a vida na Terra fosse possível, no momento do big-bang uma série de fatores deveriam estar presentes, e estavam, diz o Princípio Antrópico. Divulgado tal postulado, o fortalecimento da crença em Deus como causa planejadora do universo pode ser tão grande nas massas quanto tem sido entre os mais eminentes cientistas, e isso a mídia não quer. Como diz o filósofo Peter Kreeft, “existem, relativamente, poucos ateus entre neurologistas, neurocirurgiões e astrofísicos, mas muitos entre psicólogos, sociólogos e historiadores. A razão parece óbvia: os primeiros estudam o design divino, e os últimos estudam o undesign humano.”

Sobre as leis da termodinâmica:

As duas primeiras leis (há uma lei “zero” que versa sobre a temperatura como propriedade de equilíbrio) da termodinâmica afirmam que: (1) a quantidade de energia real no universo prevalece constante e (2) a quantidade de energia utilizável está diminuindo, o universo tende à entropia, ao “desgaste”. Essa segunda lei tem uma implicação séria: o que se desgasta não pode ser eterno, logo, teve um início, uma Causa: Deus.

Perguntar não ofende

Por que teorias e postulados que favorecem especulações materialistóides, sempre com as insinuações anti-religiosas de praxe são tão divulgadas na mídia de massa e outras, que, se comprovadas (quando isso é possível) prensariam ateus e cientificistas contra a parede, simplesmente parecem inexistir? Há quanto tempo não se vê nas grandes redes de comunicação, nas revistas de grande circulação e na imprensa especializada tais temas sendo tratados?

Só uma bem articulada estratégia de promoção da ignorância cientificista auxiliada por jornalistas esquerdômanos anticristãos não explica a questão, se não se falar nos mentores do fenômeno. A crescente concentração do poder midiático nas mãos de grupos de planejadores mundiais bilionários, aliançados com a ONU, onde impera o gnosticismo, parece ser a explicação mais plausível para a disseminação sistemática da ideologia cientificista. E nem falo aqui da omissão criminosa da divulgação dos inúmeros pareceres científicos contrários ao discurso ecofascista, como o dos 17 mil cientistas que assinaram a Petição do Oregon, ou de especialistas eminentes como Paul Lindzen e Claude Allegre.

“A ignorância é a maior multinacional do mundo”, dizia o velho Paulo Francis. Qual será o tamanho dela no futuro, quando um mega-truste dessas proporções age sem parar, com todos os recursos ao seu dispor, ávido por dominar o planeta?

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Robinson Cavalcanti: sempre socialista, nunca conservador

Publicado em 09/08 no site Mídia sem Máscara.

Bastou uma leve aproximação no tom de seu discurso com o ideário conservador, e um dos mais proeminentes esquerdistas da igreja brasileira, o bispo anglicano Robinson Cavalcanti tem seu artigo publicado no mais importante veículo de comunicação assumidamente liberal-conservador do Brasil. Mas o erro não foi só dos brasileiros. Nos Estados Unidos, ocorreu algo parecido. Portanto, fica o aviso: não, senhores, o bispo anglicano Robinson Cavalcanti não é um conservador. Não é nem mesmo o que pode se chamar de direitista. Não é liberal clássico, nem um libertário, e muito menos um conservador, seja da vertente moderada, da mais anti-estatista, ou mesmo um neocon discípulo de Leo Strauss. Nem isso. Ele é e sempre foi um socialista.

Cavalcanti deve ter notado a associação indevida de sua pessoa com o conservadorismo, mas até agora não quis se pronunciar para desfazer o equívoco. Estaria ele agindo estrategicamente? É presumível que sim.

Ex-deputado pelo PT, partido pró-aborto, pró-gayzismo, aliançado com grupos terroristas de esquerda latinos como as FARC colombianas e o Sendero Luminoso no Foro de São Paulo, Cavalcanti, que também é cientista político, foi o mentor e fundador do MEP – Movimento Evangélico Progressista, agremiação de militantes “esquerdistas cristãos”. Afirmou que saiu do PT porque, além de ter sido eleito para o episcopado anglicano, em sua visão, o partido abrandou o discurso e não era mais de esquerda o suficiente:

não estou mais filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1997, em razão da minha eleição ao episcopado anglicano. Tenho memórias positivas de um passado de lutas pelo estado democrático, pela soberania nacional e pela justiça social. Tenho também percepções cada vez mais negativas da ruptura-ideológico-programática desse partido
(Revista Ultimato, edição de setembro/outubro de 2004)

No segundo turno da reeleição de Lula, em 2006, no mesmo sentido, Cavalcanti escreveu:

Depois de me esgotar rodando o Brasil nas campanhas de 1989 e 1994, sou surpreendido com a confissão de Lula: “Nunca fui de esquerda”. (...) Como funcionário público de classe média, professor universitário, aposentado, socialista democrático e evangélico, não tinha mais razão para votar em Lula.
(Ultimato, edição de janeiro/fevereiro de 2006)

Vale destacar que Robinson Cavalcanti não é um conservador nem mesmo em termos teológicos. É uma das principais referências no Brasil quando o assunto é a teologia da Missão Integral, uma espécie de versão protestante da “teologia” da “libertação”, com a qual militantes socialistas transformaram milhares de paróquias da América Latina em meros think-tanks da subversão política. Não é porque agora, com o recrudescimento do agitprop gayzista, que o deixou alarmado, que Cavalcanti abandonou o ideenkleid socialista. Ele não fez isso publicamente. E mesmo se o fizesse, quem conhece a história do comunismo sabe que após a rejeição pública de seus velhos e torpes ideais, o suposto ex-militante deve ficar sob observação atenta. No caso de Cavalcanti, esse cuidado não é necessário. Pois ele não negou nada do que está em seus livros, artigos e discursos, nos quais mistura e associa socialismo e cristianismo.

A teologia de Robinson Cavalcanti, bem como algumas de suas posições em relação à família e à sexualidade também afrontam não só o conservadorismo, mas também o cristianismo histórico. Sobre a monogamia, ele afirma:

O ideal existe, mas sua manifestação histórica pode ferir outros tantos ideais divinos: sanidade, amor, fé, pois a monogamia pode ser, em muitos casos, apenas aritmética (1+1) e não qualitativa. A manutenção de outros ideais divinos tem levado, por sua vez, à necessidade de modelos não-monogâmicos que tornam possível a preservação e a promoção daqueles outros valores e idéias diante da impossibilidade histórico-conjuntural da simultaneidade de todos os valores (p. ex. Israel no Antigo Testamento.
(no e-book Libertação e Sexualidade, págs 71 e 72)

É claro que ele omite a passagem bíblica em que Jesus Cristo reafirma aos fariseus a prescrição divina irrevogável: Deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua (no singular) mulher, tornando-se os dois uma só carne. Também não fala do padrão paulino para bispos e diáconos: maridos de uma só mulher.

Antes, a preocupação de Cavalcanti é meramente igualitarista, e acarreta na hipótese de que Deus estabeleceria padrões de conduta impossíveis de serem vivenciados ao longo da história:

O ideal divino, edênico, seriam as uniões monogâmicas? Sim, mas para todos. Ou seja, a exigência de absolutização desse modelo seria legítimo historicamente quando, concomitantemente, houvessem as condições objetivas para que todos a usufruíssem, não ficando ninguém sem casar, conforme, igualmente, o ideal edênico. Não seria teologicamente correto, nem eticamente honesto, exigência de um aspecto sem levar em conta a totalidade da Ordem da Criação.
(Libertação e Sexualidade, pág 72)

Aqui fica óbvia a transposição da mentalidade “socialista democrática” de Cavalcanti para a esfera teológica, com todas as suas nefastas conseqüências de ordem espiritual e moral. “Só não é pecado se todos tiverem o mesmo direito”. Mas nada apóia esse raciocínio comunistóide nas Escrituras. “As manifestações sociais do pecado, as perversões, como as guerras, as epidemias, as enfermidades, os acidentes, as desigualdades, os preconceitos, têm tornado impossível o outro lado desse ideal”, afirma o bispo no parágrafo seguinte. Como se a presença do pecado no mundo pudesse relativizar a ordenança divina, única fonte da qual se pode entender a noção mesma de pecado. A ilogicidade da assertiva raia o ridículo.

Esse é o verdadeiro e conhecido Robinson Cavalcanti, ainda que faça boas críticas à ditadura gay (que, na verdade, ajudou a forjar, pois sempre se empenhou para que os evangélicos brasileiros apoiassem candidatos esquerdistas) e reconheça que, em última instância, a verdade e justiça absoluta estão não mãos de Deus. O que não é suficiente para fazer dele um conservador, ou seja: alguém que não faz qualquer concessão a ideologias, ao intervencionismo estatal cada vez maior e à relativização de valores espirituais e morais. Robinson Cavalcanti é mais um exemplo daqueles cristãos que deixaram-se influenciar pela mentalidade secular em muitas de suas posições.

Fica a reprimenda aos conservadores autênticos: mais atenção, mais discernimento e mais conhecimento histórico é necessário. Não dêem crédito de imediato a qualquer assertiva de origem duvidosa, por mais que esta se assemelhe aos postulados conservadores. A história do movimento revolucionário mundial é a do ódio e da perversão travestidos de caridade e zelo moral. Para a esquerda, não interessa o discurso, desde que ela seja capaz de arrebanhar militantes e semear os impulsos gnóstico-revolucionários na alma de seus ouvintes, com um único objetivo: a revolução, a “nova ordem”. Estejamos atentos.

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Esse é meu segundo artigo que sai no MSM. O outro foi esse post.

Leia também o post Política à luz da Bíblia.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Nos tempos da blasfêmia pop

Eles valem-se do conceito bíblico de blasfêmia contra o Espírito Santo, acreditam que há um inferno e na fórmula infalível, de acordo com a Bíblia, de ir parar lá. Portanto, não se pode classificar o pessoal do Blasphemy Challenge, que está lançando a campanha do “desafio da blasfêmia”, de ateus sérios. Eles nada mais são que provocadores anticristãos.

Para divulgar o filme The God Who Wasn't There (O Deus que não estava lá) - alusão ao best-seller do apologeta presbiteriano Francis Schaeffer, The God Who Was There – o “ministério” Blasphemy Challenge (www.blasphemychallenge.com) propõe ao “desafiante” que grave um vídeo no qual blasfeme contra o Espírito Santo, o único pecado sem perdão, segundo o texto do Evangelho de Marcos 3 verso 29, e envie-o a sites como o YouTube. E avisam: “Jesus vai te perdoar por qualquer coisa que você fizer, mas ele não vai te perdoar se você negar o Espírito Santo. Nunca. Essa é uma estrada sem retorno que você esta escolhendo agora.” O prêmio? Uma cópia de The God Who Wasn't There.

Um dos objetivos confessos dessa turminha é aumentar a população do inferno. Nesse sentido, são mais crentes na Bíblia do que os adeptos da heresia universalista. A danação eterna poderá vir, no futuro, a muitos que aderiram à proposta, mas é para o presente momento que a idéia do Blasphemy Challenge tem visivelmente uma meta muito mais séria, por mais que não assumam: por meio da chacota, ridicularizar a fé em Cristo e contribuir para o recrudescimento do anticristianismo, fenômeno notório em quase todo o Ocidente. Certamente os idealizadores do projeto pouco se importam, ou mesmo ignoram de que cristianismo é a religião mais perseguida do mundo e o número de vítimas dessa caçada chegue a 90 mil por ano. A cumplicidade, mesmo inconsciente, é clara, e a História mostra que a perseguição cultural sempre precede à física, a matança em larga escala. É só perguntar a qualquer judeu alemão que assistiu a chegada de Hitler ao poder.

Com tantos adolescentes aderindo, não se pode negar o contorno de esporte radical, de X-Games, que o Blasphemy Challenge adquiriu. O anticristianismo, entre os adultos é supostamente intelectualizado, instigado e influenciado pelos bem-falantes da mídia de massa. O dos adolescentes, para emplacar, não poderia usar gravata: anda de skate e aparece no Youtube. É basicamente Jackass religioso. Aí está a nova tendência. Logo aparecerão mais filmes, videogames e streetwear baseados numa afronta estilozinha ao cristianismo.

Vale lembrar: fosse uma gozação ao budismo, ao hinduísmo, à wicca ou a qualquer culto tribal, os poodles midiáticos teriam chiliquinhos e gritariam: etnocêntricos! Intolerantes! Como é contra o cristianismo, “viva a liberdade de expressão”. Se fosse contra o islamismo, bem, o episódio dos cartuns na Dinamarca refresca a memória, serve de exemplo, e dispensa comentários.

Num quadro como o atual, se os cristãos realmente estivessem atentos, já teriam se posicionado de forma diferente. Infelizmente, parecem acuados demais por bobagens como o evolucionismo, o cientificismo, a manipulação lingüística dos politicamente corretos, a recriminação da fé nas escolas e na Academia, e a insistência na divulgação da mitologia iluminista que caricaturiza o cristianismo e faz as mais estapafúrdias distorções históricas. Cada um desses elementos tem um papel importante para a formação de uma sociedade cristofóbica. Não são poucos os que defendem tais coisas sabendo claramente disso.

Para agravar a situação, o fato é que os cristãos ainda não conhecem a superioridade de suas posições frente à lorota agnóstica e ateísta e acabam enredados pela gritara cética. Podem pagar caro por isso, e a secularização da Europa, já em estado avançado, o esvaziamento de muitas igrejas e as dificuldades crescentes para a evangelização são evidências de que é hora de um despertamento apologético e evangelístico de envergadura mundial.

Jonathan Edwards, rara combinação de teólogo erudito, apologeta e ousado avivalista, já avisava: o inferno é fechado pelo lado de dentro. O espetáculo trash perpetrado pelos “ateus” do Blasphemy Challenge confirma mais uma das convicções do velho mestre calvinista, e compactua, ainda que de maneira cínica e irresponsável, com uma chegada mais rápida de muitos mártires cristãos ao paraíso celeste.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Ide e adaptai?

Não consigo identificar gente mais tosca que esses teólogos auto-incumbidos da missão de criar uma teologia adaptada à realidade do país, que supostamente proporcionaria melhores resultados na pregação e na vivência do Evangelho no Brasil, algo que, dizem eles, contribuiria para a solução de muitos problemas na Igreja e na sociedade tapuia. Falam em teologia nativa, teologia autóctone, em “uma teologia nossa”. É óbvio que logo o teólogo pitaqueiro mostra a verve terceiro-mundista de suas motivações.E lá vem expressões como “precisamos de uma teologia livre dos ranços anglo-saxônicos” ou “um Evangelho condizente com a nossa condição subdesenvolvida, voltado para a diminuição da pobreza” e afins. Sim, há, também, fúria política nisso tudo, mas o cerne do problema é ainda mais grave.

O texto da chamada grande comissão não diz “ide a adaptai o Evangelho a toda criatura”. Nunca achei um trecho sequer de Paulo - que se fez de louco para ganhar os loucos - apontando para tal necessidade. Vejo, sim, a adaptação da estratégia do pregador, não da essência da mensagem. Vejo a necessidade das pessoas e povos se adaptarem, por meio do arrependimento, à mensagem da Cruz, que, em cada uma das cartas do apóstolo, destinadas a igrejas em contextos sócio-culturais distintos, é sempre a mesma.

Bem, não é de hoje que adaptam o Evangelho às mais variadas inspirações e motivações. Sejam ideológicas, e aí temos o exemplo soturno dos entusiastas da tal “Missão Integral” – rótulo que subentende a parcialidade do Evangelho quando desprovido da mistura com o socialismo – ou mesmo os mais torpes impulsos carnais, como no caso dos “evangélicos gays”, termo equivalente a “ateus politeístas”, “céticos crédulos” ou algo do tipo.

Em Cristo, diz a Bíblia, não há diferença entre circunciso e incircunciso, bárbaro ou cita, judeu ou grego. O Evangelho é um para todos, e é na busca do seu significado mais puro e profundo é que vidas poderão ser transformadas e ver muitos de seus problemas resolvidos. Não consigo perceber algo que tenha causado mais confusão e desavença na história da Igreja do que interpretações parciais e subjetivas da Palavra de Deus, que permanece a mesma, para sempre. Evangelho ao gosto do freguês acarretará sempre na perdição eterna do freguês.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

A minha fé e a deles

O materialista diz que nada há além da matéria. Mas a teoria dele não é matéria. O agnóstico radical diz que “não é possível saber” nada sobre Deus e sua existência. Mas como ele sabe disso? O cético duvida de tudo, menos do ceticismo, para o qual é crédulo como um bebê ao colo da mãe. Os convencionalistas afirmam taxativamente: “todo significado é relativo”. Relativo a quê? Eis a pergunta mais importante que tantos não ousam fazer a si mesmos. O supremo valor dos niilistas é o niilismo. Estranho. O deísta acredita num deus que pôde criar absolutamente tudo e não pode interferir em nada. Só porque o deísta não quer, ao que parece. Toda essa turma, cujos alicerces de suas teses são em si mesmos trombadas lógicas patentes, como se vê, só pode se basear numa fé cega para defender tais posições como se fossem as mais racionais. Já o fideísta usa a razão para dizer que, quando se fala em fé, a razão deve ser deixada de lado, caindo no mesmo umbiguismo dos incrédulos. Lindo de se ver. Aí falo que ainda não vi nada mais racional, embasado filosófica e historicamente que o Cristianismo que professo e logo sou taxado de louco ou ingênuo. Logo falam na Trindade. Nada mais previsível. Para quem mantém posições como as acima mencionadas, difícil seria conseguir distinguir entre pessoa e essência, entre mistério e falácia. Mas paciência é fruto do Espírito. Prossigamos rumo ao alvo, Cristo.

domingo, 20 de maio de 2007

Sete notas sobre a crítica ao consumismo

Há casos de consumismo psicopatológico. Certamente. Mas na crítica ao consumismo há uma psicologia aplicada para gerar resultados políticos, não para prevenir cidadãos de desequilíbrio algum. A opção preferencial dos críticos do consumismo, sabe-se, é pelos pobres. Riquinhos problemáticos e a classe-média “alienada”, para eles, só estão bebendo do próprio veneno.

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Antes de se atacar a sociedade por consumir demais, deve-se elogiá-la por produzir muito e oferecer conforto e liberdade de escolha entre produtos e preços. Isso é reconhecer as vantagens do livre mercado, pecado mortal para tais críticos. Mas Chesterton já avisava: “o que há de errado com o mundo é que ninguém pergunta o que está certo.” E consumista é a pessoa, quando é o caso. Não a sociedade. Dizer que a sociedade é consumista é como dizer que o Brasil é rosa fosforescente.

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Normalmente o padrão para taxar alguém de consumista não é o quanto a pessoa gasta com coisas tidas como supérfluas (ainda mais no Brasil, quintal da esquerda-Romanée-Conti deslumbrada). É o quanto de suas preferências se identifica com os famigerados “valores burgueses”. Se você aplaudir o apedrejamento do McDonalds e sugerir o incêndio da Daslu, apreciar um Cohyba, um Grant’s e trufas com um “cumpanhêro” fará de você um asceta.

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Os críticos do consumismo defendem governos fortes e interventores. Eles não vão esperar o governo dos seus sonhos surgir (e já não está bom assim!?!?) para querer moldar uma das esferas mais subjetivas e distintas da vida, que é a da economia pessoal. Cada um gasta sua grana do seu jeito, mas para quem sonha com “igualdade” reconhecer isso é doloroso demais.

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Muitos dos anti-consumistas são facilmente identificáveis porque têm sua moda própria. Na verdade, seus correligionários dão as cartas no que se refere às tendências de consumo. A última coisa que o universo fashion seria, repleto de bibas politicamente corretas, é uma solenidade da TFP (por outro lado, ainda bem, mas olha aí cara do ‘Che’ em tudo o que é mochila, camiseta e boné estilozinho).

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O pelotão de crianças mimadas histéricas com o padrão de consumo alheio é crescente e só confirma a tese de Ortega y Gasset: o ‘homem-massa’ e o ‘mocinho satisfeito’ desfrutam de forma tão natural de tudo o que a civilização produziu que pensam que ela é a própria natureza, e não um fenômeno que séculos de produção de conhecimento e uma combinação de elementos morais e espirituais tornaram viável. Por isso endossam frivolamente o discurso dos que querem destruí-la. Tudo é postiço, falso, na vida dos que perdem o senso histórico e recusam a toda e qualquer instância superior de valores, bem como à transcendência. Abre-se assim espaço para as mais ridículas picuinhas relativas estritamente à esfera material.

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“Enquanto uns consomem desenfreadamente, milhões morrem de fome”, dizem os engenheiros da culpa auto-proclamados arautos do resgate da dignidade humana. Logo quem! Os primeiros a terceirizar a solidariedade, empurrando-a para o estado, pois a bondade individual, para os tais, “não resolve o problema”. O slogan supõe que a presença de riqueza num dado ambiente é fruto da pobreza instaurada em alguns outros. Mas isso só pode ser mendacidade ou burrice das mais extremas. Qualquer calouro de Economia sabe porque uma economia cresce. A crítica também supõe preocupação com os pobres e até atribui argúcia sociológica a seu emissor, mas as forças motrizes da ideologia subjacente é a inveja e a fúria gnóstico-revolucionária.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

As atribuições do homem

Algo muito humano é reconhecer uma fraqueza, um problema ou uma pendência que precisa de solução e tentar esquecê-la, desviar-se dela, protelar o confronto consigo mesmo e com a tal tarefa. Quem já não lembrou, num momento de lazer ou alegria, de um dever ainda não cumprido, que requer justamente aquilo que se pensa não poder dar, seja por medo, dificuldade de qualquer ordem, ou por pura negligência orgulhosa e empedernida? A protelação então, mancha o bom momento, gera um desconforto quase inconsciente que se prolonga por dias, semanas, meses. A consciência, como um acorde dominante repleto de intervalos alterados, pede resolução plena, a função tônica que finaliza a harmonia tonal. Enfim, pede o cumprimento do dever, o confronto com a realidade, a realização do que ainda é idéia ou ideal.

Penso que toda pessoa já passou por isso, seja nas pequenas tarefas do cotidiano ou nas grandes questões existenciais. A forma que nos habituamos a encarar tais situações evidenciam o estado do nosso caráter, que, se essencialmente é o mesmo, ainda assim pode ser moldado. A grande doença de nossos tempos é a vontade de driblar as atribuições do homem frente à realidade, seja relativizando cada uma delas ou inventando uma interpretação mais cômoda do conjunto dos fatos. Tais mentes, muitas vezes, sim, imaturas, mas não raro deliberadamente intransigentes e omissas, buscarão no consentimento alheio o respaldo para os sofismas que inventaram para cauterizar suas próprias consciências.

Não tenho dúvidas que aí reside boa parte dos aspectos psicológicos e espirituais que forjaram a mentalidade moderna.

Logo me dirão:
-Eliot, o cristianismo também pode ser facilmente enquadrado como uma dessas fugas, prometendo para uma vida futura aquilo que nega para a presente.

Respondo:
- E você está de fato disposto a experimentá-lo, ao menos para ver se esse é o caso? Evidências da veracidade da fé cristã te garanto que não faltarão.

Mais de uma vez vi refletido no olhar de tais pessoas uma profusão dessas fugas, uma explosão desses sofismas, vindas das profundezas do ser.

Logo emendo:
- Quem te capacitará a andar com Deus, a seguir a Cristo, será o Espírito Santo.

Alguns dizem que disso sabem. Noutros, noto, condoído, o anseio louco e redobrado de se lançar com todas as forças no abismo das elocubrações herdadas dos que há séculos fazem de tudo para fugir de Deus.

Então noto que não é essa a condição para o qual o homem foi criado. Um ser forjado "à imagem e semelhança de Deus", mesmo aprisionado pelo pecado, necessita da verdade e da comunhão com seu Criador.

Cabe ao homem buscar saber até que ponto está disposto a buscar a verdade, em todas as áreas, e o que está disposto a fazer para estar próximo daquele que promete:

Buscar-me-eis e me achareis quando me buscares de todo o coração.

sábado, 31 de março de 2007

Crivella fala bobagem

É bem provável que tudo não tenha passado de frufru pomposo para agradar o aniversariante — no caso, o PC do B — que fazia 85 anos e, portanto, uma das mais nobres instituições representantes da ideologia política que mais caçou e matou cristãos ao longo da história. Mas o senador Marcelo Crivella (PR-RJ), um dos líderes da Igreja Universal, ao declarar que “o Evangelho é a cartilha mais comunista que existe”, além de blasfemar, evidencia o nível de prestígio e de associação com o termo “justiça” que o comunismo desfruta entre os líderes da Igreja Brasileira.

Nada há em comum entre o amor altruísta, fruto da iniciativa pessoal de alguém que se relaciona com o Deus vivo, e uma ideologia de ódio ateísta por princípio, que evoca a luta de classes para centralizar o poder político e econômico nas mãos de supostos intelectuais que consideram o Cristianismo o maior obstáculo para a Revolução Comunista.

Mesmo assim, Crivella elogiou, segundo a Agência Senado, “a luta histórica da militância do PCdoB por um Brasil mais justo”. A revolta comunista de 1935 matou 500 pessoas em uma semana. Hoje, os socialistas do PT fazem os cofres da União pagarem indenizações milionárias para gente que foi perseguida na ditadura de 64, que — para evitar a ameaça comunista em nosso país — em longos 20 anos fez um pouco mais que a metade desse número de vítimas, mas sem dúvida alguma protegendo milhões de brasileiros inocentes.

Só para recordar, milhões de cristãos foram cruelmente trucidados em governos comunistas da União Soviética, China e outros, e ninguém ganhou indenização. No Brasil é diferente: além de ameaçarem instalar semelhante regime assassino, hoje os esquerdistas radicais recebem indenizações milionárias porque foram detidos na tentativa de golpe. Gente que é sempre a favor do aborto, da causa gay, da eutanásia e que, graças a declarações como essa de Crivella, desfrutam a cada dia que passa de mais prestígio entre os evangélicos brasileiros desinformados.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Ateu não existe

Não, não vou tratar agora das fragilidades conceituais de posições como o materialismo, o agnosticismo radical, evolucionismo e outras crenças do tipo. Se você não acredita na Bíblia, (deveria acreditar, mas isso fica para outro post) certamente não encontrará nada nesse post que vá, de fato, confrontar seus posicionamentos mais seriamente. Até te aconselho ler outra coisa, mas enfim, você que sabe, fique à vontade.

Bem agora que estamos conversados, defenderei o porquê de, como cristão, não acreditar na existência de ateus. Em Eclesiastes 3:11, o pregador diz:

Tudo fez Deus formoso em seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras de Deus desde o princípio até o fim.

(Bíblia de Estudo Almeida,Revista e Atualizada)


A passagem sugere não só o anseio do homem em buscar o sentido máximo de sua vida e de todo o plano da existência, como também dá a entender que há um conhecimento inato de um Ser Superior inerente à condição humana, ou, ao menos, um conhecimento da imortalidade, da natureza espiritual do homem, e o que reforça essa análise é são os trechos do Gêneses que tratam do homem enquanto ser criado à imagem (Gen.1:27) e semelhança (Gen. 5:1) de Deus”.

Mesmo arautos do ateísmo como Marx, Sartre e Bertrand Russel foram teístas confessos em alguma fase de suas vidas. Alguns deles, ao assumirem-se como ateus, falaram desse posicionamento como algo terrível, duro, cruel. Talvez por ter de se deparar a todo instante com aquilo que negavam. Não sei, nunca fui ateu.

Além dessa evidência interna da existência de Deus, há também a evidência externa, a qual a passagem de Romanos 1:19-20 faz referência:

Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, como também sua divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis;

(Bíblia de Estudo Almeida,Revista e Atualizada)


Infere-se, portanto, com base bíblica, a existência da revelação interna (no coração) e a revelação externa (presente na natureza) da existência de um Ser Superior, Criador e Sustentador do mundo. Não é à-toa que o salmista foi enfático em declarar: “Não há Deus, diz o tolo em seu coração” (e eis a base bíblica para afirmar que as universidades estão repletas de tolos). Só pode ser um tolo quem despreza sua experiência vivencial mais básica e tenta fazer vistas grossas ao que a Criação manifesta constantemente. Sempre tive a impressão que ateus confessos estão “fingindo ateísmo” o tempo todo.

Vale destacar que a revelação interna se faz presente no homem também pelo simples fato dele ser parte da Criação. E é bem no homem que revelação da existência de Deus é mais gritante, pois ele é a obra máxima da Criação, feito à imagem de Deus.

Alguém logo dirá: “ei, mais essa revelação não é suficiente para salvar o homem”. Concordo. Não estou falando aqui da salvação, do plano salvador de Deus executado por Cristo. Estou falando do “acreditar que Deus existe”, não no “acreditar em Deus” e muito menos no “acreditar que só em Jesus se obtém a salvação”. Falo da revelação geral, da teologia natural. Não da revelação especial, que é a Bíblia, a Palavra de Deus. E nela que, sim, podemos ter conhecimento da mensagem da cruz e não só ter comunhão com Cristo agora e na eternidade, como, por meio dessa comunhão, perceber de forma mais completa a beleza da Criação, da vida, e do amor eterno de Deus Pai, Criador e Sustentador (pois nEle, TUDO subsiste) de todas as coisas.

segunda-feira, 5 de março de 2007

O silêncio de Cavalcanti e sua trupe

Engraçado. Todos os evangélicos esquerdistas assumidos (oi, povo do MEP) e outros que incentivaram o apoio maciço da igreja evangélica brasileira ao PT andam tão quietinhos, não é mesmo? Depois dessa cartilha do governo petista incentivando adolescentes a beijar na boca e a fazer bom uso de camisinhas, não deram um pio, num silencio análogo ao da época em que o ministro petista Nilmário Miranda lançou a cartilha politicamente correta, uma das maiores investidas totalitárias e de controle psicológico das massas já perpetrada pelo governo na história política do Brasil.

Nem tudo, porém, os cala. Robson Cavalcanti fica todo alarmadinho quando vê o atual governo liberando verbas milionárias para passeatas gays e defendendo com unhas e dentes a agenda GLBT. Mas não é capaz de assumir, que, sendo um cientista político que até deputado pelo PT já foi, sabendo que o partido sempre foi pró-gay, pró-aborto, pró-eutanásia e pró-FARC´s, tem parte nisso tudo.

Hoje ele deixou de ser petista porque não acha o PT de esquerda o suficiente para ter seu apoio. Mas progressista nenhum deixa de dar seus brados quando é hora de pular do barco, de jogar os anéis para não perder os dedos. Faz parte do modus operandi dos socialistas. É claro que Cavalcanti fez isso como se também não estivesse presente no pacote vendido pela esquerda que ele, agora, considera a autêntica (daqui a meia-hora pode ser outra facção), a típica afronta a cada um dos enunciados cristãos que é da essência mesma do esquerdismo. Mas sobre ela Cavalcanti também silencia.

O problema maior é que, para Cavalcanti e asseclas não basta evidenciar a dissonância que há entre os princípios bíblicos e o socialismo. Não basta mostrar, na ponta do lápis, e com base histórica, a inviabilidade de regimes socialistas e de outros com pesado intervencionismo estatal na economia, que saem mais caros e só agravam o problema da pobreza. Também não basta evidenciar as raízes anticristãs das ideologias progressistas e os perfis, sempre variando entre o devasso e o homicida, de todos, (sim, todos) os grandes autores e heróis do progressismo/socialismo. “Pelos frutos, os conhecereis”, para eles, talvez não se encaixe aqui, tudo não deve passar de mera coincidência.

Quase cinco décadas de dominação gramsciana no Brasil, aliada a um provincianismo repleto de ressentimento e complexo de inferioridade em relação ao mundo desenvolvido, reduziram a caridade e o altruísmo cristão à mera práxis revolucionária. E pior, em apoio incondicional a terroristas treinados pelo regime cubano e seus respectivos lacaios e entusiastas, que, do PT, saltaram para os postos de chefia de várias instituições públicas do país. Sobre isso, tudo o que temos de boa parte dos evangélicos de esquerda também é silêncio.

O silêncio deles, porém não me desgosta totalmente. Na verdade, até prefiro-os bem quietinhos. Sem falar, sem escrever artigos, livros, sem aparecer na tevê e sem querer moldar a cosmovisão alheia. O silêncio deles, sim, evitará que a ação da Igreja se transforme em atividade legitimadora de ideologias mundanas e do governo do Anticristo, que, sem querer (assim espero), os evangélicos socialistas estão ajudando a construir.


Veja também:

Os evangélicos brasileiros e as causas do Anticristo e

A ONU começa a mostrar as suas garras

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Provai e vede que o Senhor é bom

“A sua misericórdia dura para sempre”, repete o salmista incansavelmente, tomado pela alegria que o conhecimento do amor de Deus gerou em seu coração. No hebraico, o termo traduzido por misericórdia - hésed – é amplo em significado e abrange também atributos como bondade, lealdade e amor. O amor de Cristo nos constrange, comentava Paulo, que mesmo em meio às dificuldades, insistia aos irmãos de Filipos:

Quanto ao mais, irmãos meus alegrai-vos no Senhor. A mim não me desgosta e é segurança para vós outros que eu escreva as mesmas coisas (Fl 3.1).

Na que é provavelmente sua carta escrita em tom mais pessoal, Paulo reitera que está alegre e exorta seus irmãos nesse sentido. E lá está a alegria como item do “fruto do Espírito” na carta aos gálatas, o que nos leva a considerá-la como resultado direto da presença de Deus em nossas vidas (Gl 5:22-23).

Cristo disse que no mundo teríamos aflições, mas daí para dizer que esta vida é um “vale de lágrimas” há uma bela distância. Já cheguei a dizer que não acredito em depressão em cristãos maduros por motivos meramente emocionais, contingenciais, e ainda reluto em admitir que tenha exagerado. Foi Cristo que disse: “Tende bom ânimo”. Certamente há algo de muito errado na vida espiritual de quem está sempre melancólico, por mais que motivos não faltem para nos entristecer e revoltar. Mas deixar os sofrimentos do presente tomarem conta da nossa alma é ceder à “tristeza segundo o mundo”, que “produz morte” (2 Coríntios 7:10). É dessa depressão, dessa tristeza patológica a que me refiro.

Enfim, as promessas bíblicas para os que forem fiéis a Ele são muitas, e “seus mandamentos não são penosos” (1 João 5:3). Portanto, associar ortodoxia, fidelidade estrita à Palavra de Deus, a legalismo e a fardos farisaicos é um disparate que só aqueles que, segundo Eric Voegelin, “não possuem a força espiritual exigida para a heróica aventura da alma que é o Cristianismo” poderiam conceber.

“A lei do Senhor é perfeita e seus mandamentos alegram o coração”. A melhor alternativa para quem quer viver uma vida alegre é obedecer ao Senhor, buscar “o centro da Sua vontade”, como se diz. Vontade que, testificou o apóstolo, porque a experimentou: é boa, perfeita e agradável.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Procura-se contra-argumentos decentes

Se hoje há um perfil de pessoa que consegue, em qualquer conversa, calar minha boca, é aquela que, visível e assumidamente desinformada, ratifica seus posicionamentos primários, seus preconceitos mais pueris, mesmo após ouvir um considerável montante de informações novas e explanações – as quais até considera corretas, plausíveis e lógicas. Isso não só me cala como me assusta. Pois parece que nada mais importa a tais pessoas além de seus achismos simplórios, que lhe dão todas as explicações possíveis sobre tudo, bem como a medida de sua visão de mundo.

O que me preocupa na atual ideosfera brasileira não é só a existência dessas pessoas. É constatar que a maioria esmagadora comporta-se dessa forma. Disparando clichês e frases-feitas assim que se toca em certos assuntos. Tais reações variam do gracejo bobo – alguns já bem previsíveis – até manifestações de fúria e severa reprovação.

Triste é perceber que parentes, amigos e outros que até ontem eu considerava esclarecidos estão desse jeito. Antes fossem apenas os âncoras dos telejornais...

Se hoje o louco da história sou eu, tudo bem. O futuro dirá. Ficarei feliz em estar errado. Se estiver correto e se tudo continuar como está, espero que Deus me permita, quando esse futuro chegar, estar bem longe do Brasil.

Que o Senhor sare essa nação. Porque o que se planta, colhe.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Ciência, fé e caipirismos progressistóides

Pois é gente, não postei nada antes da virada do ano como pensei, mas cá estou hoje, afim de discorrer sobre a ingenuidade desse povo supostamente esclarecido e repleto de “espírito crítico” que repete cheio de fé o clichê do tal choque entre “ciência versus fé”. É que noto neles o desconhecimento sobre o que é ciência, e também o que é a vida espiritual, a religião, a teologia. Nada mais tosco do que pensar que é necessária uma reavaliação e reformulação das bases da fé por causa do progresso científico, para que os religiosos assumam uma “posição equilibrada”, afinal, “o mundo mudou”. Imaturidade intelectual e espiritual é a do religioso que adere a tal discurso. Claro, há os casos de sem-vergonhice e impostura também. Deixemos cada caso com o Justo Juiz.

Essa criancice cronocêntrica, que faz tantas pessoas pensarem que existe uma espécie de evolucionismo da verdade, começou com Hegel, se absolutizou com Marx e, na forma de uma idolatria determinista do devir histórico, mãe de todo progressismo e repleta de preconceitos imanentistas tolos, emburreceu (e corrompeu) meio mundo, impedindo milhares de mentes talentosas de descobrir as grandes lições deixadas pelos antigos.

Quem cai na conversa da “ciência versus fé” normalmente é vítima da propaganda agressiva dos ideólogos do materialismo naturalista travestido de ciência, que advoga o monopólio da definição cabal de tudo o que existe. O que é a vida, o que é o trabalho do cérebro, o que é o ato conjugal, como se formou o mundo etc. O que a “ciência” disser, concordem todos, especialmente os religiosos – retrógados e obscurantistas por excelência -, na visão dos cientificistas xiitas entusiastas do “progresso”.

Coloquei aspas na palavra ‘ciência’ na frase anterior porque aquilo que os materialistas dizem ser ciência não passa de uma visão bem estúpida do que ela realmente é. O verdadeiro cientista sabe que na mais completa e revolucionária de suas descobertas, nada mais fará do que abstrair de dados experimentais uma relação mecânica (num sentido lato) universal (uma dessas “leis”, p. ex.) entre quantidades definidas. E jamais poderá dizer que tal coisa “é realmente assim” ou é a “verdade absoluta sobre o fenômeno”. Esse cientista sabe que a abstração é derivada da experiência e que as relações mecânicas nela observadas são apenas partes do fenômeno. Newton sabia que suas leis não “eram” os porquês de alguns fatos, mas apenas descreviam aspectos mecânicos destes (1).

É por isso que ele e outros grandes gênios cientistas, como Max Plank, Werner Heisenberg, Galileu, Pasteur, Einstein, Blaise Pascal, Robert Boyle, Michael Faraday, James Clark Maxwell, Aristóteles(2), Gregor Mendel e Francis Bacon não eram ateus. Só o são esse bando de jacuzões cientificistas que influenciam outra horda de jecas-tatus: a dos progressistas teológicos.

Notas:

1- Ver o excelente O que é ciência?, de Gene Calahan.

2- Um cara com um nome muito legal, Arthur Lovejoy, disse que tudo o que a ciência faz são notas de rodapé aos livros de Aristóteles e Platão. Algo que torna isso claro é a própria história das teorias predominantes sobre o mundo físico, na qual há a linha dos deterministas (que vai de Platão a Newton) e a dos indeterministas (de Aristóteles à dobradinha Plank/Heisenberg e na atual física quântica).