quarta-feira, 25 de abril de 2007

As atribuições do homem

Algo muito humano é reconhecer uma fraqueza, um problema ou uma pendência que precisa de solução e tentar esquecê-la, desviar-se dela, protelar o confronto consigo mesmo e com a tal tarefa. Quem já não lembrou, num momento de lazer ou alegria, de um dever ainda não cumprido, que requer justamente aquilo que se pensa não poder dar, seja por medo, dificuldade de qualquer ordem, ou por pura negligência orgulhosa e empedernida? A protelação então, mancha o bom momento, gera um desconforto quase inconsciente que se prolonga por dias, semanas, meses. A consciência, como um acorde dominante repleto de intervalos alterados, pede resolução plena, a função tônica que finaliza a harmonia tonal. Enfim, pede o cumprimento do dever, o confronto com a realidade, a realização do que ainda é idéia ou ideal.

Penso que toda pessoa já passou por isso, seja nas pequenas tarefas do cotidiano ou nas grandes questões existenciais. A forma que nos habituamos a encarar tais situações evidenciam o estado do nosso caráter, que, se essencialmente é o mesmo, ainda assim pode ser moldado. A grande doença de nossos tempos é a vontade de driblar as atribuições do homem frente à realidade, seja relativizando cada uma delas ou inventando uma interpretação mais cômoda do conjunto dos fatos. Tais mentes, muitas vezes, sim, imaturas, mas não raro deliberadamente intransigentes e omissas, buscarão no consentimento alheio o respaldo para os sofismas que inventaram para cauterizar suas próprias consciências.

Não tenho dúvidas que aí reside boa parte dos aspectos psicológicos e espirituais que forjaram a mentalidade moderna.

Logo me dirão:
-Eliot, o cristianismo também pode ser facilmente enquadrado como uma dessas fugas, prometendo para uma vida futura aquilo que nega para a presente.

Respondo:
- E você está de fato disposto a experimentá-lo, ao menos para ver se esse é o caso? Evidências da veracidade da fé cristã te garanto que não faltarão.

Mais de uma vez vi refletido no olhar de tais pessoas uma profusão dessas fugas, uma explosão desses sofismas, vindas das profundezas do ser.

Logo emendo:
- Quem te capacitará a andar com Deus, a seguir a Cristo, será o Espírito Santo.

Alguns dizem que disso sabem. Noutros, noto, condoído, o anseio louco e redobrado de se lançar com todas as forças no abismo das elocubrações herdadas dos que há séculos fazem de tudo para fugir de Deus.

Então noto que não é essa a condição para o qual o homem foi criado. Um ser forjado "à imagem e semelhança de Deus", mesmo aprisionado pelo pecado, necessita da verdade e da comunhão com seu Criador.

Cabe ao homem buscar saber até que ponto está disposto a buscar a verdade, em todas as áreas, e o que está disposto a fazer para estar próximo daquele que promete:

Buscar-me-eis e me achareis quando me buscares de todo o coração.

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