Há casos de consumismo psicopatológico. Certamente. Mas na crítica ao consumismo há uma psicologia aplicada para gerar resultados políticos, não para prevenir cidadãos de desequilíbrio algum. A opção preferencial dos críticos do consumismo, sabe-se, é pelos pobres. Riquinhos problemáticos e a classe-média “alienada”, para eles, só estão bebendo do próprio veneno.
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Antes de se atacar a sociedade por consumir demais, deve-se elogiá-la por produzir muito e oferecer conforto e liberdade de escolha entre produtos e preços. Isso é reconhecer as vantagens do livre mercado, pecado mortal para tais críticos. Mas Chesterton já avisava: “o que há de errado com o mundo é que ninguém pergunta o que está certo.” E consumista é a pessoa, quando é o caso. Não a sociedade. Dizer que a sociedade é consumista é como dizer que o Brasil é rosa fosforescente.
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Normalmente o padrão para taxar alguém de consumista não é o quanto a pessoa gasta com coisas tidas como supérfluas (ainda mais no Brasil, quintal da esquerda-Romanée-Conti deslumbrada). É o quanto de suas preferências se identifica com os famigerados “valores burgueses”. Se você aplaudir o apedrejamento do McDonalds e sugerir o incêndio da Daslu, apreciar um Cohyba, um Grant’s e trufas com um “cumpanhêro” fará de você um asceta.
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Os críticos do consumismo defendem governos fortes e interventores. Eles não vão esperar o governo dos seus sonhos surgir (e já não está bom assim!?!?) para querer moldar uma das esferas mais subjetivas e distintas da vida, que é a da economia pessoal. Cada um gasta sua grana do seu jeito, mas para quem sonha com “igualdade” reconhecer isso é doloroso demais.
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Muitos dos anti-consumistas são facilmente identificáveis porque têm sua moda própria. Na verdade, seus correligionários dão as cartas no que se refere às tendências de consumo. A última coisa que o universo fashion seria, repleto de bibas politicamente corretas, é uma solenidade da TFP (por outro lado, ainda bem, mas olha aí cara do ‘Che’ em tudo o que é mochila, camiseta e boné estilozinho).
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O pelotão de crianças mimadas histéricas com o padrão de consumo alheio é crescente e só confirma a tese de Ortega y Gasset: o ‘homem-massa’ e o ‘mocinho satisfeito’ desfrutam de forma tão natural de tudo o que a civilização produziu que pensam que ela é a própria natureza, e não um fenômeno que séculos de produção de conhecimento e uma combinação de elementos morais e espirituais tornaram viável. Por isso endossam frivolamente o discurso dos que querem destruí-la. Tudo é postiço, falso, na vida dos que perdem o senso histórico e recusam a toda e qualquer instância superior de valores, bem como à transcendência. Abre-se assim espaço para as mais ridículas picuinhas relativas estritamente à esfera material.
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“Enquanto uns consomem desenfreadamente, milhões morrem de fome”, dizem os engenheiros da culpa auto-proclamados arautos do resgate da dignidade humana. Logo quem! Os primeiros a terceirizar a solidariedade, empurrando-a para o estado, pois a bondade individual, para os tais, “não resolve o problema”. O slogan supõe que a presença de riqueza num dado ambiente é fruto da pobreza instaurada em alguns outros. Mas isso só pode ser mendacidade ou burrice das mais extremas. Qualquer calouro de Economia sabe porque uma economia cresce. A crítica também supõe preocupação com os pobres e até atribui argúcia sociológica a seu emissor, mas as forças motrizes da ideologia subjacente é a inveja e a fúria gnóstico-revolucionária.
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