sábado, 23 de maio de 2009

Para avaliar a crítica à Igreja


Todo cristão sabe que viver o Evangelho não é tão simples. Tudo que é real, verdadeiro, é complexo, como complexa é a realidade, já observava C. S. Lewis. É só com a presença do Espírito Santo em sua vida, que o homem pode viver segundo os preceitos de Cristo, e perfeição, só com a Redenção plena consumada. Mesmo assim, estou pra ver um esporte tão irresponsavelmente praticado, algo ser feito de forma tão leviana quanto a crítica à Igreja. E aí estão as grandes publicações evangélicas, com gente séria, sim, disposta a exortar e a servir a seus irmãos, repartindo conhecimento, mas também com batalhões de pitaqueiros e suas colunas fixas, que não me deixam mentir.

Sem querer repetir o ar professoral dos textos insossos de muitos desses presunçosos, apresento aqui algumas perguntas que faço quando busco avaliar a qualidade do trabalho de alguns destes auto-nomeados guias da igreja brasileira. Algumas óbvias, algumas difíceis. Necessárias, mas não sei se suficientes. Mas que valem também para todas as outras leituras. Reportagens, aulas, ensaios, documentários, colunas de jornais, de revistas não-cristãs, etc.. Ao identificar fragilidades no meu método, aí está minha caixa de comentários. Me ajude.

1 - Quem a faz?

2 - De quê ele reclama?

3 - Como o faz? Ele está alicerçado numa visão de mundo realmente cristã, bíblica? Como é a sua argumentação? Há rigor lógico e conceitual na exposição de suas teses, ou tudo se reduz a opiniões pessoais? Aqui há uma questão fundamental: se você identificar uma lógica manca, falácias, conclusões que não condizem com as premissas, há boa probabilidade de você estar lendo um picareta. Outro ponto a ser destacado: o importante é que o colunista enxergue o objeto, o assunto do seu artigo com clareza. Às vezes uma argumentação aparentemente rigorosa esconde desconhecimento sobre aspectos elementares do assunto. Quem já leu o Delfim Neto sabe do que estou falando.

4 - De qual perspectiva? (teológica, política, filosófica, etc...)

5 - Quando a fez? Em que momento está, com quais contextos históricos faz comparações e qual é sua interpretação histórica?

6 - Por que a faz? O quê o motiva a fazê-la. (Se confessa suas motivações, comparar com os possíveis desdobramentos e conseqüências de tal crítica. Se o crítico não faz isso, seu histórico e posicionamentos intelectuais esclarecem muita coisa. Apelar para sub-freudismos chulos – mania nacional – do tipo: "ih, esse aí brigou com a mulher", não resolve o problema e evidencia mais a SUA tosquice intelectual do que a do crítico em análise. Tentar "ler as entrelinhas", no sentido de tentar identificar motivações de forma puramente subjetiva, fazendo eisegeses (impor sentidos ao texto) grosseiras – outra mania comum, que pegou graças ao freudismo tido em boa conta por muita gente, também confunde mais do que esclarece.)

7 - Como se dá a relação entre: identificação com o problema/intercessão/sentimentos/posições intelectuais que se evidenciam na crítica. A igreja é o Corpo de Cristo, a família com muito irmãos na qual Jesus é o primogênito, é a noiva do Senhor. Tendo sempre isso em mente, pode-se perceber se o autor escreve com o intuito de servir à igreja, com amor, ou apenas para aparecer, o que é muito comum.

8 – Qual o histórico, no campo da idéias, e o perfil dos entusiastas do posicionamento do crítico. Quem são, quem são seu mentores, quem são seus comparsas, o que pensam. Vale lembrar a promessa de Cristo sobre a possibilidade de conhecimento objetivo e certeiro quanto a isso: “Pelos frutos os conhecereis”. Glória somente ao Cordeiro!

Para concluir, mais duas observações:

1 - Se há dificuldades em tentar responder para si mesmo algumas dessas questões, e não é fácil mesmo – e se você considera fácil, cuidado -, busque cristãos sérios que possam orientar suas leituras, participe de grupos de estudo bíblico, teológico e filosófico. Eu faço parte de um, e ajuda muito. Lembre-se dos grandes heróis da fé, pregadores e avivalistas da história: sempre sedentos por Deus, e incansáveis na busca por conhecimento.

2 – Sim, a mula pode falar a Balaão. Deus pode usar quem menos imaginávamos, para nos mostrar fatos e verdades importantes do que tem acontecido à igreja e sobre o que ela tem feito. Por mais que discordemos de tudo mais que a mula defenda. Mas a mula falar é a exceção, não a regra, e cautela é necessária.

Se você quiser fazer crítica eclesiológica:

Sem buscar discernimento e sabedoria da parte de Deus, e sem base nas Escrituras, nem comece. Você será parte do problema, e só contribuirá para o diagnóstico como amostra, evidenciando sintomas. Nesse sentido, todo cristão dá sua contribuição, queira ou não. Já o número dos que têm algo a acrescentar, a edificar, é muito menor.
E só faça isso se você tem tal chamado. Não imite esses intelectualóides frívolos que são pagos para encher de letrinhas as páginas de certas revistas ditas evangélicas. Não se exponha ao ridículo, você é filho do Rei do Reis.

sábado, 2 de maio de 2009

Declan Ganley e o Libertas: resistência à proto-ditadura européia

Publicado no site Mídia Sem Máscara.



Que a União Européia é o modelo maior de estado supra-nacional que, aos poucos vai corroendo toda a autonomia política, jurídica, econômica, militar e mesmo cultural dos países que a ela se inserem, só ainda não vê quem não quer. Mas a resistência a essa proto-ditadura também já adquire contornos pan-europeus. E um dos fatos mais visíveis nesse sentido é a atuação do empresário irlandês Declan Ganley, fundador e líder do movimento Libertas, um dos principais responsáveis pela vitória na “campanha do não” na Irlanda em junho passado, no único país europeu em que a opinião do povo foi levada em conta, por meio de referendo, no que tange à adesão ao Tratado de Lisboa, que confere ainda mais poder à Comunidade Européia sobre os países membros.

Quase nada se falou, nem mesmo nos meios conservadores, sobre Declan Ganley até agora. Como jornalista, considero muito alta a possibilidade de que seu nome fique conhecido em âmbito mundial por meio da caricatura e do factóide, já que ele é, sim, uma pedra no sapato das hordas “globalitárias”. Por isso, é bom passar algumas informações sobre Ganley, o Libertas e o porquê de sua relevância na esfera política mundial, antes que a desinformatsia da New World Order o faça.

Declan James Ganley tem 40 anos e é presidente da Rivada Networks, empresa de telecomunicações que fez amplos investimentos no leste europeu. Tem experiência em gestão de grandes projetos públicos nas áreas de economia, segurança, tecnologia e assuntos estratégicos, tendo atuado em países como Letônia, Rússia e nos Estados Unidos, onde foi premiado por seu auxílio à restauração das redes de segurança pública no estado de Louisiana. Mas, ao contrário dos típicos empresários brasileiros, que, estupidificados, se inflam de “culpa burguesa” e logo passam a papagaiar os slogans de vigaristas da “responsabilidade social” como Oded Grajew, Ganley tem uma visão muito clara dos rumos políticos que o mundo tomará se as pessoas que amam a liberdade e ainda dela desfrutam não se posicionarem. Fundou o primeiro movimento político pan-europeu, o Libertas, que denuncia a falta de transparência, a natureza antidemocrática e desrespeito pelos interesses dos países que integram a União Européia.

À frente do Libertas, Ganley ficou conhecido como “Mr. No”, “Senhor Não”, durante a campanha sobre o Tratado de Lisboa, mobilizando ativistas em toda a Irlanda que se valeram de cartazes, panfletos e helicópteros para denunciar o autoritarismo e os equívocos nas medidas econômicas presentes no documento que vale como uma nova Constituição Européia. Como o próprio premier irlandês Brian Cowe admitiu não ter lido na ocasião o Tratado na íntegra, Ganley se posicionou perante a população como “o homem que leu o tratado”. Mesmo admitindo não ser contrário à integração do bloco, no site do Libertas a mensagem é clara:

O outrora honesto e inclusivo governo da União tornou-se irresponsável, sombrio e antidemocrático. Os Tratados propostos recentemente iriam alargar o fosso entre as elites governantes de Bruxelas e o povo Europeu. E lamentavelmente quando esses tratados foram rejeitados pelo povo Francês, Holandês e Irlandês, a vontade democrática do povo foi ignorada.

Como pode se ver, lá, como cá, quando se trata dos interesses dos globalistas e da burocracia assentada em Bruxelas – como legalização do aborto, eutanásia, desarmamento, intrusões nas liberdades individuais, etc. – todo sim é definitivo e torna-se cláusula pétrea na legislação, e todo não é provisório. Deve ser driblado ou contestado por meio de novo referendo, dois ou três anos depois. Vale lembrar que o Tratado de Lisboa foi submetido a referendo na Irlanda três anos após o colapso da Constituição da UE. A tartaruga dos socialistas fabianos de Bruxelas e da ONU pode até ser lenta, mas é pesada, teimosa, e pouco disfarça seu modus operandi autoritário.

À época do referendo irlandês, Mario Vargas Llosa alertou que a cada derrota dos eurófilos, novas medidas de centralização de poder são tomadas, sem levar em conta a preocupação dos cidadãos com o aumento da burocracia européia e que uma Carta de Direitos significativa não poderia surgir e ter legitimidade num contexto desses. É nessa tecla que o Libertas toca, e com isso obtém cada vez mais atenção, passando a ser visto como uma alternativa viável para as eleições para o Parlamento Europeu, que serão em junho, com o movimento lançando candidatos por todo o Velho Continente.

Neste dia 1o de maio, acontece a primeira convenção do Libertas, Roma, com a presença e apoio de Lech Walesa, que já declarou que o Libertas tem potencial para fazer a Europa mudar para melhor. A repercussão vai aumentar, e as notícias chegarão. Provavelmente tortas. Mas vale a pena aguardar.