Um dos clichês presentes na ponta da língua de ateus peso-pena (99% dos casos) é o de que a fé no sobrenatural e em verdades absolutas constitui uma fuga da realidade, uma muleta para almas fracas. Na Academia muito se fala também que o estabelecimento e a defesa da verdade e da fé não passam de estratégia para fazer com que homens se submetam a outros. É comum ouvir os tais intelectuais tagarelarem o que Michel Foucault afirmou em seu Microfísica do Poder:
A "verdade" está circularmente ligada a sistemas de poder, que a produzem e apóiam, e a efeitos de poder que ela induz e que a reproduzem. "Regime" da verdade.
Logo adiante declara:
O problema político essencial para o intelectual não é criticar os conteúdos ideológicos que estariam ligados à ciência ou fazer com que sua prática científica seja acompanhada por uma ideologia justa; mas saber se é possível constituir uma nova política da verdade. O problema não é mudar a "consciência" das pessoas, ou o que elas têm na cabeça, mas o regime político, econômico, institucional de produção da verdade.
Não se trata de libertar a verdade de todo o sistema de poder – o que seria quimérico, na medida em que a própria verdade é poder – mas de desvincular o poder da verdade das formas de hegemonia (sociais, econômicas, culturais) no interior nas quais ela funciona no momento.
Para o Foucault, que morreu de Aids - deveria pensar que a existência do HIV não passava de um discurso do moralismo capitalista para dominar e reprimir as pessoas - a verdade, que ele fez tanta questão de pô-la sempre entre aspas, crendo que a inexistência dela fosse, uma... verdade, existia apenas como instrumento de dominação, de poder, para a implantação de hierarquias e regimes. Uma mera ferramenta criada pelos homens repletos da libido dominandi da qual falava Hobbes.
Jovens mais preocupados em "sair na balada" e "ficar" com a gatinha certa, ao entrar em contato com tais teses, logo aprendem a papagaiá-las – sempre prontos que estão a absorver qualquer coisa que dê certa consistência ao "faço faculdade". De fato, nada mais justo que consagrar a mesa de bar como o local mais apropriado para a livre circulação das idéias de Foucault.
No entanto, sem a verdade o homem não vive. E com o sufocante vácuo espiritual contemporâneo, as pessoas
não só passam a acreditar que a solução para suas vidas é ingressar na igreja Jedi ou na do deus Maradona, como se apegam a preceitos como o de Foucault e à infinita cadeia – não há termo mais preciso - de reivindicacionalismos que ele suscita. Assim a agitação política passa a ser o diclofenaco psíquico dos que não reconhecem a veracidade (como poderiam?) da máxima de Spinoza: sentimos e experimentamos que somos eternos.
Não há fuga maior da patente realidade espiritual do que restringir toda a missão dos homens na Terra à esfera sócio-cósmica. Aí está a essência do velho gnosticismo do início da era cristã. Eis a força motriz das ideologias totalitárias modernas. Sem dúvida, uma das mais eficazes ferramentas na mão do diabo atualmente e que pode funcionar mesmo para os cristãos. Quem dá testemunho disso é o demônio Screwtape, da ficção de C.S. Lewis Cartas do Inferno:
Uma vez providenciado para que encontros, panfletos, políticas, movimentos, causas e cruzadas comecem a ter muito mais importância para ele do que as orações, ordenanças e a caridade, ele é nosso e quanto mais religioso (nestes termos) ele for, mais seguramente nosso ele se tornará. Eu poderia mostrar a você uma gaiola cheia desse tipo de almas aqui embaixo.
Que o cristão fique atento para que também não caia nessa armadilha. Alguns não só já caíram nela como a transformaram em "teologia" e em balizas para suas missiologias. Outros não chegaram a tanto, mas sem querer, acabam contribuindo para a politização de todos os aspectos da vida e das atividades da Igreja de Cristo, lamentavelmente.
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