terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Esquerda, Direita e Cristianismo

Publicado em 15/12 no site Mídia sem Máscara.

Conversar sobre política com meus irmãos cristãos, confesso, para mim tem sido um enorme desprazer há um bom tempo. Desinformação, ignorância presunçosa, desconhecimento histórico e moralismo bobo imperam, mesmo entre autoridades eclesiásticas conhecidas. O resultado desse triste quadro pode-se perceber à distância: posicionamentos mais díspares e estapafúrdios, que vão desde o ideologismo adolescente ao fisiologismo mais raso. O desdém pelo assunto, por parte de alguns pretensos espiritualóides, também me assusta.

Percebo que a maioria dos cristãos não sabe que o dualismo direita x esquerda é oriundo da valorização da dimensão sóciocósmica, terrena, em detrimento da espiritual, da relação Deus x homem. Cientes disso, os discípulos de Jesus do século XXI devem assumir uma posição muito crítica em relação à política, ao poder, e aos detentores do poder temporal. Afinal o Mestre foi muito claro: Meu reino não é deste mundo.

É preciso saber que entre os que valorizam mais a dimensão sóciocósmica do que a espiritualidade há uma cizânia que remonta o Renascimento e gera as seguintes dicotomias: historicistas versus naturalistas, humanidade versus cosmos, pensamento versus experiência, leis da razão versus leis físicas, mecanicismo versus vitalismo. Na filosofia, racionalistas versus empiristas. Em “Letras” e “Ciências” dividia-se a universidade fundada por Luís XIV.

Esta tensão, este antagonismo, sem buscar em Deus sua resolução, é, desde aquele período, o principal eixo da história do pensamento ocidental. No século XX, na esfera política, ele aparece na disputa entre capitalistas e comunistas, mas começou a se desenhar na Revolução Francesa.

O banho de sangue, advindo da ascensão do pensamento político modernista, ocorrido nos os últimos 200 anos, mostra o equívoco que é para o cristão escolher um desses lados numa atitude positiva. É preciso estar atento, pois socialistas, liberais, socialdemocratas, entre outros, sempre buscaram respaldo moral e legitimidade no Cristianismo; o fundamentalismo marxista pagou caro pelo ateísmo declarado.

Entretanto, parece estar na moda, entre os cristãos brasileiros, se dizer socialista. Dessa forma, atribuem a todas as variantes ideológicas mundanas com quais o termo “socialista” se associa, as qualidades e prerrogativas que são próprias do Cristianismo. É notório que essas ideologias usurpam a soliedariedade cristã, mas criminalizam toda a moralidade bíblica, como se o cultuadores do poder do Estado tivessem uma moral indiscutivelmente superior à dos cristãos. Basta uma rápida lida nos jornais para ver o quanto aquilo que hoje é considerado portador do legado judaico-cristão é encarado como algo opressivo, dominador e indiferente. Exemplos? Israel, o Vaticano, os EUA, o capitalismo, etc.

A maioria dos cristãos brasileiros atualmente não vê essas obviedades, pois, desprovidos de uma visão histórica mais abrangente e sem nenhum contraponto, foram doutrinados num ambiente onde a hegemonia esquerdista nos jornais, centros pensantes, artes e economia é devastadora.

Nesse contexto surgem os pastores socialistas, que apóiam invasões de terra mas não se dizem relativistas (como se o direito a propriedade não estivesse lá no Pentateuco), os teólogos que lêem Marx e Nietzsche em busca de “novos” pressupostos e outros cristãos que, em busca de equilíbrio, se dizem “de centro”. Imagino que quando eles lêem o livro de Jó e se deparam com seu sofrimento dizem: - Bem-feito pra esse latifundiário!

Nunca vi nenhuma palavra da Bíblia contra o comércio, contra a economia de mercado.O que vi foi apenas uma advertência: Balança enganosa é abominação ao Senhor. Portanto, o que o cristão assumido deve ter em mente é que o pragmatismo do mercado deve ser amenizado por uma forte influência do Cristianismo na sociedade, não com intervencionismo estatal de qualquer espécie. Nada há na Bíblia que o legitime. É Jesus que expulsa os vendilhões do templo. Não a guarda de César. É o amor ao próximo que supre as carências dos mais pobres, não a subserviência covarde a quem empreende “revoluções culturais” e cobra tributos exorbitantes – que se não pagos entrega aos leões seja quem for.

Já contra o Estado e o poder político instituído – a suprema obsessão dos socialistas - vejo inúmeras advertências bíblicas. Uma das mais notórias é quando o Espírito Santo advertiu os magos para não informarem a Herodes onde se encontrava o recém-nascido Jesus. Outra é quando por meio do profeta Samuel, os judeus são advertidos para não desejarem a configuração do seu quadro político semelhante ao dos povos que não conheciam a Deus. Os cristãos cometem erro parecido atualmente. Em vez de apoiarem uma influência cada vez maior do cristianismo na política e na configuração jurídica dos países onde vivem, impondo franca resistência à secularização de todos os aspectos da vida, cada vez mais submetida à política, colhem da prateleira das ideologias mundanas os ingredientes para preparar suas indigestas opiniões sobre política. Muitas vezes apoiando grupos que defendem premissas totalmente contrárias aos valores do Evangelho. Transformam, assim, suas justificativas de cunho pseudoteológico em elucubrações que beiram o blasfemo e correm o risco de entregar a César o que não lhe pertence: suas próprias almas.


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