quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Ciência, fé e caipirismos progressistóides

Pois é gente, não postei nada antes da virada do ano como pensei, mas cá estou hoje, afim de discorrer sobre a ingenuidade desse povo supostamente esclarecido e repleto de “espírito crítico” que repete cheio de fé o clichê do tal choque entre “ciência versus fé”. É que noto neles o desconhecimento sobre o que é ciência, e também o que é a vida espiritual, a religião, a teologia. Nada mais tosco do que pensar que é necessária uma reavaliação e reformulação das bases da fé por causa do progresso científico, para que os religiosos assumam uma “posição equilibrada”, afinal, “o mundo mudou”. Imaturidade intelectual e espiritual é a do religioso que adere a tal discurso. Claro, há os casos de sem-vergonhice e impostura também. Deixemos cada caso com o Justo Juiz.

Essa criancice cronocêntrica, que faz tantas pessoas pensarem que existe uma espécie de evolucionismo da verdade, começou com Hegel, se absolutizou com Marx e, na forma de uma idolatria determinista do devir histórico, mãe de todo progressismo e repleta de preconceitos imanentistas tolos, emburreceu (e corrompeu) meio mundo, impedindo milhares de mentes talentosas de descobrir as grandes lições deixadas pelos antigos.

Quem cai na conversa da “ciência versus fé” normalmente é vítima da propaganda agressiva dos ideólogos do materialismo naturalista travestido de ciência, que advoga o monopólio da definição cabal de tudo o que existe. O que é a vida, o que é o trabalho do cérebro, o que é o ato conjugal, como se formou o mundo etc. O que a “ciência” disser, concordem todos, especialmente os religiosos – retrógados e obscurantistas por excelência -, na visão dos cientificistas xiitas entusiastas do “progresso”.

Coloquei aspas na palavra ‘ciência’ na frase anterior porque aquilo que os materialistas dizem ser ciência não passa de uma visão bem estúpida do que ela realmente é. O verdadeiro cientista sabe que na mais completa e revolucionária de suas descobertas, nada mais fará do que abstrair de dados experimentais uma relação mecânica (num sentido lato) universal (uma dessas “leis”, p. ex.) entre quantidades definidas. E jamais poderá dizer que tal coisa “é realmente assim” ou é a “verdade absoluta sobre o fenômeno”. Esse cientista sabe que a abstração é derivada da experiência e que as relações mecânicas nela observadas são apenas partes do fenômeno. Newton sabia que suas leis não “eram” os porquês de alguns fatos, mas apenas descreviam aspectos mecânicos destes (1).

É por isso que ele e outros grandes gênios cientistas, como Max Plank, Werner Heisenberg, Galileu, Pasteur, Einstein, Blaise Pascal, Robert Boyle, Michael Faraday, James Clark Maxwell, Aristóteles(2), Gregor Mendel e Francis Bacon não eram ateus. Só o são esse bando de jacuzões cientificistas que influenciam outra horda de jecas-tatus: a dos progressistas teológicos.

Notas:

1- Ver o excelente O que é ciência?, de Gene Calahan.

2- Um cara com um nome muito legal, Arthur Lovejoy, disse que tudo o que a ciência faz são notas de rodapé aos livros de Aristóteles e Platão. Algo que torna isso claro é a própria história das teorias predominantes sobre o mundo físico, na qual há a linha dos deterministas (que vai de Platão a Newton) e a dos indeterministas (de Aristóteles à dobradinha Plank/Heisenberg e na atual física quântica).

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