terça-feira, 29 de agosto de 2006

A arte eterna

Se há uma forma de arte cada vez mais rara, nobre, que é mais elevada e requer maior independência e soberania da consciência do artista frente à contaminação presente em derredor, esta é a “arte pela arte”, a arte desprovida de qualquer alinhamento, qualquer engajamento, alheia a qualquer anseio “social” e livre dos ranços de matriz política, sem aquele panfletarismo vulgar.

É no compromisso com a ordem do alma do criador, no fluir das experiências dele como ser humano enquanto cria e materializa a obra, naquele processo no qual visa superar as limitações das suas ferramentas e dos múltiplos devires da sua vida interior no momento mesmo da criação, no instante mesmo da conexão plena do seu ‘eu’ com sua obra, (o ápice da arte?) é que a arte, evidenciando o que há de mais nobre no ser humano, alcance suas mais nobres prerrogativas.

A arte que permanece, que acaba por tornar-se realmente relevante, que supera a passagem das épocas e que realmente emancipa e beneficia os homens é essa, comprometida não com as agitações frívolas, passageiras e desumanizadoras (porque imediatistas, pragmáticas e ávidas por dominação) dos discursos políticos, mas sim com o que é inerente a todos os homens, com aquilo que os faz os deiformes, autônomos e cosmonômicos. A obra de arte que fica é essa, que se torna “um clássico”, justamente por evocar o que abarca e transcende todas as eras.

Quando a arte é realizada por aqueles que estão submetidos à Verdade Absoluta, esta, uma vez louvada, resgata e projeta a subjetividade humana a uma nova dimensão, na qual a inspiração se renova e o Eterno se estabelece.



ps: Como bem me alertou um visitante, usei o termo "arte pela arte" de uma forma um tanto dúbia, equivocada. No anseio de falar sobre uma arte sem ranço panfletário, fiz, sem intenção, alusão a uma outra forma de pensar a arte: aquela na qual a obra é um fim em si mesmo. Como dá para perceber no restante do texto, não era dessa abordagem que quis me referir.

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

P.R.O.P.I.N.A.

Um fenômeno que grassa o ambiente dos debates políticos num país vítima da hegemonia gramsciana é o P.R.O.P.I.N.A.. Não, não falo das safadezas daqueles que de gatos-do-mato no Araguaia passaram a ser os gatunos de smoking de Brasília. Refiro-me ao Plano Revolucionário de Ocultação Político-Ideológica Narcisista e Alienante – P.R.O.P.I.N.A. Tal plano consiste naquilo que vemos os viciados no ópio dos intelectuais praticarem todos os dias: 1- ser um ferrenho esquerdômano e dizer que não é; 2- dizer que não é de direita nem de esquerda, afirmando que estas seriam classificações anacrônicas, mas sem conseguir parar de tagarelar canhotismos um instante sequer.

É óbvio que nestas hordas, há, sim, os que praticam o P.R.O.P.I.N.A. por pura burrice e ingenuidade – os típicos idiotas úteis - aquele povinho de classe média que lê Dan Brown, assiste o canal Futura e enche a boca para dizer que "o comunismo acabou". Porém, os mais perigosos praticantes do P.R.O.P.I.N.A. sabem exatamente o que estão fazendo.

Nos dois grupos que fazem do P.R.O.P.I.N.A. sua cadeira-de-rodas mental, há um aspecto comum e fundamental: ao dizer que não é de esquerda, subentender que nada seria mais correto, moral e lógico do que defender premissas coletivistas como a "justiça social" e a "distribuição de renda". Assim reafirmam o velho maniqueísmo falacioso: solidariedade e sensibilidade aos problemas alheios é monopólio da esquerda e a direita não passa de uma horda de avarentos moralistas. Não é preciso dizer que tais alienadores e alienados nunca leram uma linha sequer escrita por Ludwig von Mises ou Eric Voegelin.

Entre os do segundo tipo, muitos até dizem que odeiam Nietzsche, mas são o retrato vivo da tamanha umbigolatria que se pode chegar o "super-homem" idealizado pelo prussiano raivoso. "Quem tem rótulo é vidro de requeijão", dizem esses que, como Nietzsche pensou, pensam poder estar além e acima do bem e do mal. Mas como são humanos, demasiadamente humanos, é claro que acabam pendendo para um lado. E como todo "último-homem", seguem a boiada que entrou na onda hegemônica.

E lá vem eles, com aquela eloqüência sui generis: "não é a questão de ser de esquerda, ah, tipo, nada a ver, mas é que, pô, olha aí 'os pobrinho', tanta gente com fome, sem emprego... poxa, capitalismo é uma....". É o que dizem nas salas de aula, nas festas de família, à mesa do bar, na qual jogam a chave do Audi TT, o celular Nokia e os óculos Oakley. (Calma, o porco capitalista aqui só está descrevendo, não está fazendo "merchand" – mas gostaria e está precisando – Anuncie aqui!).

P.R.O.P.I.N.A., Plano Revolucionário de Ocultação Político-Ideológica Narcisista e Alienante: O que toda a (not so) New Left tapuia pratica compulsivamente, seja na forma da sigla – entre seus militantes, ou na pura acepção da palavra – com seus líderes engravatados. Pois ser de esquerda está na moda, é "cool", e todo esquerdista que se preze deve estar com o modelito mais "in": no momento, trata-se de um disfarce mal feito, mal cortado, mal costurado, sujo do sangue de milhões de vítimas e que sai voando assim que os mais desprezíveis esquerdômanos brasileiros abrem a boca.

sábado, 12 de agosto de 2006

Não ofende, não é mesmo?

Como se obter paciência para lidar com essa esquerda-Häagen-Dasz que toma as dores do Hezbollah?

O quê dizer do novo anti-semitismo/anti-sionismo evangélico baseado no “vi no Jornal Nacional”? O que é que deu nesse povo? Muita novela? Levaram a sério os livrinhos de geopolítica recomendados pelo MEC?

Só mais duas:
Quem será o próximo colunista-Katiusha das revistas evangélicas brasileiras?

Quem fará o texto mais lacrimogêneo e repleto de justiça cósmica/abstrata da próxima edição da revista Ultimato?

Quem acertar leva aquela paçoquinha "trique-trique"...


ps: Alô, alô, canhotinho: antes de começar o duckspeacking orwelliano em minha caixa de comentários, leia isso, veja isso, e mais isso. Aí você diz quem é o manipulado. Dá uma passadinha aqui e aqui também.

domingo, 6 de agosto de 2006

Miséria vicia

Que o ‘bom’ é inimigo do ‘melhor’ é sabido. O que me espanta é perceber que o ‘ruim’ é inimigo dos dois, e parece ser tão cativante, ao menos para alguns. Me assombra ver tantas pessoas se contentarem com tão pouco. Sabe aquela pessoa que, de tão acostumada a ver as atrações musicais do programa do Faustão ou das rádios FM, “acha chato”, “pra velho”, escutar um virtuoso pianista executar Liszt (ah, Liszt) ou então a Sinfônica de Viena? Pois é.

Não que eu seja o mais rigoroso dos elitistas culturais, estou longe disso, e o que quero destacar é que o problema é ainda mais grave quando não se trata apenas de arte e cultura, mas sim da vida espiritual. Jesus nos prometeu vida em abundância, mas vejo muitos cristãos com uma vida capenga em tantas áreas que só posso chegar a essa conclusão: miséria certamente vicia. São emocionalmente frágeis, cheios de complexos, orgulhosos/tímidos, (nesse caso o problema é exatamente o mesmo, apenas com manifestações distintas) etc. Mas ao serem confrontados a se posicionar de forma diferente, a correr como a mulher com o fluxo de sangue em direção a Jesus e receber a cura que as farão voar mais alto, se retraem, fingem que não é com elas e prolongam suas existências (vida aquilo não é) naquela versão distorcida e amesquinhada do Evangelho que inventaram para si mesmas, para acomodar suas misérias. Triste de ver.

É preciso estar atento e pedir para o Senhor mostrar em quais áreas da vida pode-se estar nessa condição. Ninguém está livre de se viciar na miséria em alguma área, e não se conformar com ela fará com que sejamos odres novos, capazes de receber o vinho novo que nos encherá de alegria e nos capacitará para toda boa obra.