Rob Bell, ícone da chamada “igreja emergente”, lança um novo livro, intitulado Love Wins, afirmando que, no fim das contas, o “amor vence, Deus é bom demais e esse papo de inferno não é bem assim”. Previsivelmente, ressurge o debate.
Não, meus caros, eles não querem provar que sua doutrina é a correta. No fundo, sabem que estão grotescamente errados. Ou alguém aí quer algo mais literal e contundente nos Evangelhos do que as afirmações do próprio Senhor Jesus sobre a realidade do inferno? Francamente, não posso acreditar que há pessoas que vejam Rob Bell e seu amigo Brian McLaren como pessoas desprovidas de cultura teológica, que nunca leram uma sequer das muitas e contundentes refutações, algumas delas escritas há séculos, a essa pataquada chamada universalismo soteriológico.
Descartada a hipótese da tosquice doutrinária, até porque McLaren e Bell ainda evocam conhecimento filosófico (bem, evocam o desconstrucionismo “pós-moderno”...), é claro que Bell, com a bem estruturada estratégia midiática que usa, sabia de antemão do impacto que Love Wins iria provocar. O reaquecimento do debate entre fãs da teologia liberal e apologetas do cristianismo bíblico era líquido e certo.
E começa o combate. O pós-moderno lança seus jabs, rodeia, mas logo o cristão bíblico manda aquele pesado cruzado (de direita) no queixo da criatura. 8, 9, 10. Fim. O problema é que poucos assistem a luta. E a vitória, no plano cultural, a longo prazo, será, sim, do pós-moderno. Basta ver como estão nossas igrejas hoje. O aprofundamento da já assustadora flexibilização dos padrões doutrinários e de conduta dentro do evangelicalismo contemporâneo é resultado mais visível da propagação de idéias como as de McLaren, Bell, e assemelhados.
Quer um exemplo? Bem, aí temos as dezenas de blogueiros fazendo críticas ferozes aos cristãos conservadores, posando de maduros, sensatos, equilibrados, e claro, culturalmente antenados (oh, excelsa virtude!) enquanto dão links para blogs e sites pró-gayzismo, ONG’s ecofascistas, partidos pró-aborto e com agendas notoriamente anticristãs. Sempre, é claro, em nome do seu insuspeito “amor cristão” pela humanidade.
Não poderia haver “cristianismo” mais palatável aos promulgadores do secularismo radical. E claro, das elites políticas globalistas. Tudo do jeito que a ONU gosta...
Isto posto, resta-me afirmar: no debate intelectual, seja sobre soteriologia, seja sobre o “problema do mal” ou sobre a possibilidade de conhecimento da revelação divina (até isso McLaren põe em cheque), os tais emergentes sabem: para eles, não há chance. O que eles visam mesmo é a modelagem cultural. De livro em livro, de vídeo em vídeo... a longo prazo, como tudo o que é feito objetivando efeitos culturais sólidos.
Infelizmente, na mais recente polêmica suscitada pelo recém-lançado livro de Rob Bell, não vi nenhum teólogo mais conhecido lidar com tal questão, por contundentes e oportunas que tenham sido as refutações.
Gerando caos doutrinário, essas figuras corroem a credibilidade de doutrinas óbvias, consolidadas e fundamentais para vivência de um cristianismo autêntico, libertador, baseado no agir do Espírito, que gera o anseio por santidade e zelo acerca das verdades reveladas nas Escrituras.
Nota-se fenômeno semelhante quando se observa a conjuntura do atual combate cultural numa perspectiva mais ampla. Do velho e desgastado evolucionismo, ao alarmismo ecofascista, temos situação análoga: o debate acadêmico prossegue, mas o vencedor na disputa cultural já temos. Não importa o quão farsesca se mostre a cada dia a tese do aquecimento global. Qualquer chuva a mais ou a menos já é, para as mentes simples, resultado notório das tais mudanças climáticas antropogênicas.
Alguém aí dá crédito, de fato, a uma teoria como o desconstrucionismo de Derrida e de seus asseclas "pós-modernos"? Ainda assim, ela serve para emburrecer pelotões de acadêmicos. Outro caso, outra pergunta: quantas crises financeiras, quantas "bolhas" e recessões econômicas precisaremos ver e viver, e quantas lacunas lógicas e conceituais ainda precisam ser identificadas na teoria econômica de John Maynard Keynes para que se abandone de uma vez por todas o ímpeto intervencionista dos defensores do "welfare state", do "Estado-Babá", causa suprema de tantas tragédias e guerras no século XX?
Quase todas essas teorias da modernidade são mais valiosas aos revolucionários pela destruição que causam do que pela sua suposta capacidade de interpretar e descrever certos aspectos da realidade, quando de fato o fazem. E é dessa forma que devem ser observados os postulados de Rob Bell e Brian McLaren. Nada muito diferente do caso da tal “teologia” da “Missão Integral”.
As frentes de ataque ao cristianismo na esfera cultural são muitas, e a liderada pela dupla universalista me parece bem mais nociva à Igreja do que, por exemplo, a do neo-ateísmo militante de Dawkins, Harris, Dennet e Hitchens. Além de parecer muito mais uma disputa interna do que um ataque de infiltrados (e pode muito bem, ser, sim, e palmas para John MacArthur, que tocou na questão) não causam repulsa imediata da mesma forma que o gayzismo, por exemplo, causa. Mas, é claro, abre-lhe caminho, afinal, se o cristão despreparado, simples, começa a ouvir um ou outro lobo na pele de pastor dizendo que "ninguém vai para o inferno, o amor vence no final", estamos às portas de um “liberou geral” que terá na própria Igreja seu epicentro.
Vale destacar que em todo o Ocidente ainda estamos pagando um preço elevado, nas famílias, igrejas e instituições com o “liberou geral” dos anos 70.
Àqueles devotos de um suposto "equilíbrio" teológico ou intelectual, uma turma pusilânime da qual sempre desconfio, as velhas heresias de Bell e McLaren soarão como um "posicionamento interessante". E contará com vários adeptos instantâneos: aquele pelotão de cristãos já anestesiados com o pensamento deste século, que apóiam bovinamente a tudo que pareça "tolerante", "includente", ou politicamente correto. Enfim, aqueles cristãos vacilantes que a cada dia cedem um pouco mais para a cosmovisão moderna, sem a qual o reino do Anticristo não se legitima ante as massas, e que se tornam um nicho de mercado cada vez mais promissor para sofistas de fala mansa e teologia torta.
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