quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Conhecimento X Revelação

Dedico o post "Conhecimento x Revelação, escrito por Norma Braga, para todos aqueles irmãos em Cristo que tem medo de usar o cérebro. Infelizmente, não são poucos.


Conhecimento X Revelação

Teólogos se ocuparam por séculos com a questão da obtenção da fé cristã: seria por revelação ou por conhecimento? Creio que a discussão se torna um quebra-cabeças insolúvel se tomada desta forma, "ou conhecimento, ou revelação". O ideal é deixarmos de antagonizar essas duas instâncias para entendermos que todo conhecimento verdadeiro também vem de Deus. A Bíblia diz que são culpados os homens que, ao olharem para tudo o que existe no mundo - a criação - , não louvam o autor, o criador. O que significa que as coisas criadas também falam de Deus, e sobre isso existe um salmo lindíssimo que diz: "Os céus proclamam a glória de Deus / E o firmamento anuncia a obra de Suas mãos". Para reconhecer essa glória visível no mundo, precisamos dos dois lados: o sensível, para chegar às coisas, e o inteligível, para fazer uma ponte entre elas e Deus. Tudo se faz assim, nada é apenas "revelação" solta, sem nossa participação, ou "conhecimento puro", com nossa mente em atividade no vazio ou apenas consigo própria.

Logo, como protestante, acredito firmemente na ênfase na revelação de Deus como modo de se obter a fé, mas não tomo a revelação como oposta ao conhecimento. Para mim, a melhor maneira de se entender isto é o seguinte: Ele começou primeiro. Ele já existia antes de tudo, Ele imaginou, Ele criou. Assim, a iniciativa é sempre Dele em tudo. Isto se chama, afinal, graça: diante de Deus, seremos sempre os agraciados, aqueles que recebem. Logo, recebemos: revelação e conhecimento, sempre. E o antagonismo revelação x conhecimento parece perder todo o sentido se pensamos na infalível graça de Deus. Pois, no final das contas, tudo é revelação no sentido lato, começando pela revelação de si e de seu amor: "Ele nos amou primeiro."

Acredito então que, ao se fundarem necessariamente no antagonismo, os defensores de ambas as posições incorrem em erro. Os cristãos protestantes tendem a privilegiar tanto a revelação "pura" que acabam menosprezando a razão como se esta fosse intrinsecamente separada de Deus. Logo, acabam sendo anti-intelectualistas. Já os gnósticos enfiam os pés pelas mãos porque, ao privilegiarem a razão (ou o que entendem ser razão - uma razão cartesiana, mutilada do sensível, já que se concentra em excesso na mente humana, nos processos interiores), subordinam-lhe a graça, e acabam prescindindo do verdadeiro iniciador de todo processo de conhecimento. As duas posturas geram doença: a primeira diz "só Deus", e a segunda diz "só o homem".

A doutrina protestante oferece uma boa dimensão da graça. Evangélicos em geral crêem certo quanto a Deus como o grande iniciador, mas têm um medo irracional de interferir no processo e gerar orgulho - o que é uma tolice, porque a graça de Deus não significa passividade humana. Ele nos chama para sermos co-participantes de sua glória, não para recebermos Dele de forma estática. Um dos mais belos detalhes na história de Moisés é quando Deus diz para ele tocar o cajado no mar. Deus não poderia ter simplesmente mandado o mar se abrir? Não poderia ter ecoado uma voz do céu assim: "Abre-te, mar"? Mas não: delega o gesto a Moisés, e o mar se abre. É óbvio que não foi Moisés quem abriu o mar, foi Deus; mas Ele o chamou para participar do milagre. A Bíblia inteira nos chama a essa co-participação dos milagres divinos, parecendo afirmar que somos mais humanos - somos plenamente humanos - quando agimos em conjunto com Deus, porque afinal Ele nos criou para isso. Jesus o mostrou perfeitamente, sendo o melhor ser humano que chegou ao mundo por estar em perfeita sintonia com Deus.

http://www.normabraga.blogspot.com/

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