O Brasil é um país onde um belo bronzeado, num corpo “sarado”, pode acabar sendo mais valorizado que qualquer habilidade e talento para realizar complexos cálculos trigonométricos ou executar alguma peça de Liszt ao piano. Canso de presenciar situações onde as habilidades inatas são mais prestigiadas do que a técnica e o conhecimento adquiridos por meio de estudo e treino. Quando não há uma visível possibilidade de que o conhecimento logo se reverta em lucro financeiro, o estudioso corre o risco de ouvir aquele “larga esse livro aí!”. E o que nossos intelectuais fizeram com as instituições e com a cultura do país nas últimas décadas mostra claramente a completa desconexão entre a realidade e discurso dessa casta de sábios segundo a carne, que dão as coordenadas para os rumos do país mas que, hipocritamente, nunca se reconhecem como elite.
Enfim, não somos uma nação teorética. Aqui o sentimento prevalece sobre a lógica, o belo sobre o verdadeiro e a emoção sobre a razão.
Entre os cristãos brasileiros, infelizmente, a coisa não é diferente: Nas igrejas, qualquer exortação a um exame mais rigoroso da Bíblia logo é contestada com um diabolicamente descontextualizado e mal-interpretado “a letra mata, irmão!”. Não é à toa que os seminários estão infectados por sistemas teológicos modernóides e teoricamente quebradiços. No Brasil, o pregador performático tem a agenda mais cheia do que o mestre exegeta.
A Bíblia, no entanto, adverte que meu povo padece por falta de conhecimento. Parece-me que este é um versículo-síntese da atual situação da Igreja perante o tornado institucional no qual o país gira e no lamaçal civilizacional no qual chafurda: o crescimento numérico da Igreja ainda não se refletiu numa influencia positiva para a mudança desse quadro. A fé do cristão brasileiro é plausível suficientemente para salvar sua alma, mais incapaz de tornar-se uma verdade ‘social’, de caráter universal, que mais do que salvar homens, muda o destino de nações. Cada um tem “o seu jeito” de se relacionar com Deus, mas não se consegue propor um Evangelho como luz dos homens, como verdade universal capaz de destruir os sofismas mentais que apontam para o subjetivismo exacerbado e o relativismo demoníaco.
A falta da sede pelo conhecimento constitui o fator originário desse quadro e os cristãos brasileiros ainda não conseguiram transformar a conversão ao Cristianismo numa reviravolta também intelectual para suas vidas e para a vida de seus irmãos. Assim, só crescem na graça, que é, sem dúvida, fundamental, mas não no conhecimento, justamente no momento que a mente começa a se livrar das amarras demoníacas que tentam roubar, matar e destruir tanto indivíduos como instituições. E a Igreja permanece como um gigante adormecido, sem proporcionar aos cristãos um desenvolvimento pleno, integral, e sem influenciar a nação de maneira contundente e decisiva para seu destino.
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