Ao observar o atual quadro geopolítico e as movimentações de grupos políticos e de instituições de diversos perfis, percebo que o presente período sem conflitos internacionais entre potências está prestes a acabar. "Paz", definitivamente, não há, porque a China espalha horror no Tibete há 30 anos, num Sudão dividido a matança segue incólume e noutras regiões, como o Haiti e o sempre complicado Oriente Médio, a tensão e o medo continuam dando as cartas.
Investindo pesado nas novas armas que inviabilizarão a pressuposta DMA – Destruição Mútua Assegurada – que resguardou o mundo de tragédias nucleares colossais, russos e chineses não abrem mão de suas aspirações totalitárias e cooptam intelectuais, conspiradores, mercenários, terroristas e traficantes. Globalistas exercem influência cada vez maior na educação, na saúde e no imaginário coletivo. Graças à ONU, com seu já assumido objetivo de implantar um governo mundial, suas teses são consideradas máximas científicas cabais. E o cidadão ocidental médio acaba sem perceber e entender a intricada orquestração que visa implodir a sociedade na qual vive.
As idéias que norteiam a maior parte das mentes da Academia e da grande mídia - que a partir daí ditam quais e como serão discutidos os fatos pelas massas - nunca foram tão inadequadas para responder a tais questões e elas mesmas constituem a principal força motriz da atual derrocada civilizacional. Nessa ideosfera putrefata, imperam não só reducionismos como as interpretações mais simplórias, sempre regadas de gordurosa retórica coitadista. Legitimam-se pela técnica goebellsiana ante uma massa mais interessada nas flatulências de Shrek, nas imposturas de Dan Brown, Michael Moore e nas sandices de Saramago e Paulo Coelho. Opiniões resumem-se a slogans disparados assim que se ouvem as palavras chaves. E normalmente contêm mentiras que levam tempo e trabalho árduo para serem desmascaradas. Civilizações morrem de suicídio, não de assassinato, alertava Jean François Revel, falecido meses atrás.
Ao que tudo indica, o Ocidente já colocou a fronte à mira do revólver: a maior parte dos cidadãos ocidentais nem sabe, e muitos quando sabem, duvidam dos valores que os fazem viver no melhor dos mundos. A moral judaico-cristã dá asco, o capitalismo gera um desconforto no peito por mais que os pés estejam em confortáveis tênis Nike ou Adidas. O livre mercado, direito básico e fórmula simples e irrefutável para a diminuição da pobreza - soa como devaneio de velhotes de cartola. Como se um processo que surge naturalmente onde há seres humanos interessados em melhorar suas condições de vida, com base nas trocas livres e voluntárias fosse pior do que a centralização dos recursos econômicos nas mãos de um Estado que impõe sobre todos qual será o padrão de "igualdade" em que todos devem viver. Enfim, vivemos em uma geração que anseia por ser escrava, que, clamando por liberdade de expressão, normalmente a usa para tagarelar clichês libertinos e relativistas e defender aiatolás e ditadores. "Quando na há Deus, o governo se torna Deus." Nesse ponto, Nietzsche e Chesterton concordaram.
Quando a prosperidade alheia ofende, e a própria prosperidade traz culpa, nada resta senão entregar-se a decadência e à miséria. Quando os valores que garantem a liberdade se tornam um peso, os princípios escravocratas dos inimigos já sufocam com seus grilhões antes de qualquer guerra começar. É a derrota prévia, à qual o Ocidente parece já ter sucumbido. Eis os frutos do arcabouço de premissas prometéicas da tal modernidade, que, como bem lembrou o brilhante Eric Voegelin, não passa de um tumor dentro da sociedade ocidental, em oposição à tradição clássica e cristã.
O conhecido analista geopolítico Jeffrey Nyquist sabe que a decadência do Oeste é, sobretudo, espiritual. Nyquist é taxativo: as igrejas falharam. Infelizmente, alguns cristãos não vêem o problema dessa forma. Para eles, a solução se resume a colocar socialistas no poder. Assistem à criminalização progressiva de suas convicções e dela tornam-se cúmplices, defendendo os pressupostos que a ela deram origem e se envolvendo com os que, no futuro, farão da prática de cada princípio cristão um delito hediondo.
Talvez assim, perdendo o que tinham, sob perseguição, tendo de lutar bravamente numa nova ordem planetária, os cristãos vejam o lodaçal de equívocos no qual chafurdaram, lembrem-se do que deveriam ter feito e com quem se aliaram. Talvez assim percebam o rastro de obras infrutíferas e de alianças espúrias que deixaram e, com coração arrependido, tornem a Deus. Somente assim poderão levar o Evangelho puro e simples ao mundo inteiro. Tudo indica que será assim mesmo. A história mostra que há algo no sangue dos mártires que impulsiona o crescimento da Igreja, e o falatório subserviente dos que se deslumbram com as aspirações totalitárias de César são os primeiros sinais de apostasia.
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