Eles vêm, meu caro. Impávidos. Não aceitam os céticos, quando o assunto é a natureza humana. Nem os crédulos, quando falam numa redenção sobrenatural e gratuita.
Eles vêm, minha amiga. Resolutos. Não vão tolerar no seu ventre o fruto dos seus sonhos. Nem a você como sacerdotisa de uma família autônoma. No máximo, uma burocrata. Rígida, estéril.
Eles vêm, meu distinto senhor. Enfurecidos. Não vão tolerar as máquinas ligadas por muito tempo para sustentar sua vida caso um derrame lhe acometa. Nem a esperança daqueles que crêem na sua recuperação.
Eles vêm, minha senhora. Despudorados. Com recursos fartos para suas orgias públicas, mas não ouse reclamar. Nem se oponha a aliciação de seus netos nas escolas, nas falsas igrejas, nem nos prostíbulos de conspiração política.
Eles vêm, reverendo. Sagazes. A imanência é a nova ortodoxia. Nada de vocações autênticas, de inspirações e ministérios espontâneos, nada de zelos teologais. O cânon é o deles, o índex, e o loteamento. Na terra, e só da terra.
Eles vêm, artista. Solícitos. Mas desde que a sua subjetividade se torne assunto de estado. Sua alma agora é panfleto, seu amor, megafone, seus pincéis, armas de fogo.
Não ouse desafinar enquanto é executada a sinfonia da supressão do espírito.
Eles vêm, trabalhador. Avarentos. Não vão tolerar outros patrões diante deles, e só a eles você prestará serviços. O profissional liberal, outro herege. As fornalhas esperam os submissos, para mover a máquina; e os rebeldes, lenha viva.
Eles vêm, cientista. Decididos. Cuide do seu relatório, pois os céus e os sóis, agora, são deles funcionários. A grande desculpa, para tudo controlarem, para tudo regularem, para tornar o círculo um quadrado.
Eles vêm, homem livre. Ardilosos. Omitindo informações. Falseando a realidade. Pervertendo o direito. Sufocando a fluidez da vida. Enaltecendo as equações frias da ideologia psicótica.
Ele vêm, meus prezados e minhas prezadas. Para construir o reinado do anticristo. A era da mentira.
E você, vai para onde?
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