Segue meu comentário publicado junto à matéria 'O papiro da "esposa de Jesus" é visto como falsificação por especialistas', de Joe Kovacs, no Mídia Sem Máscara.
O papiro dos coptas e o papinho dos contras
Pelo
exposto na matéria, sobram motivos para se duvidar da
autenticidade do papiro. Mas ainda que o fragmento seja de fato do
século IV, é lamentável ter de observar tanta gente pensando que isso
pode por abaixo o fato conhecido de que Jesus nunca se casou. Haja
paciência!
Não é a “tradição cristã”, como vi por aí, que
garante que Cristo jamais se casou. São os inúmeros relatos, não só os
bíblicos, como também os extra-bíblicos, de seus contemporâneos, dentre
os quais alguns que o amavam e outros que o odiavam, que apontam para o
fato de que Jesus Cristo jamais teve uma esposa. Resta alguma dúvida de
que, caso ele tivesse uma esposa, esta mulher não seria apenas
conhecida, mas sim uma referência histórica, um tema milenar de estudos
teológicos, culturais e históricos, e seria até mesmo idolatrada?
É digno de nota que em casos como este os princípios metodológicos para
a pesquisa histórica séria são sempre escamoteados ou evocados conforme
a situação. Um destes princípios é o que atribui pesos distintos aos
relatos das testemunhas. Quanto mais próxima da época do episódio é a
testemunha, maior validade tem seu relato. Esse é o primeiro princípio
que precisa, na presente situação, ser escondido pelos críticos do
cristianismo. Pois o papiro é do século IV. Já os vários judeus, os
discípulos, outros seguidores de Jesus, os romanos e gente de outros
povos que viram a Cristo em Belém, em Cafarnaum, em Jerusalém, em
Nazaré, em Caná, e em outras cidades, ou seja, as testemunhas oculares
de sua vida, nada dizem sobre o casamento de Cristo, ou dEle ter tido
uma esposa, fato que jamais passaria despercebido se tivesse acontecido.
Mas
os críticos, quando lhes convém, invertem os critérios. E então um
pedaço de texto do século IV passa a valer mais do que textos completos
de testemunhas oculares. Testemunhas consideradas confiáveis, se
aplicarmos o método de análise de confiabilidade de testemunhas criado
por David Hume (um ateu). Elas passam com louvor em todos os requisitos,
e ainda vão além: deram a vida pelo seu testemunho.
Para
atacar a ressurreição de Cristo ou o valor do cânon, os críticos do
cristianismo fazem justamente o contrário: deixam estas testemunhas de
lado e dão mais credibilidade a meras hipóteses criadas até mesmo
séculos depois.
A
pesquisadora Karen King, da Universidade de Harvard, que encontrou o
papiro está correta: o texto não prova nada. O historiador André
Chevitarese, da UFRJ, acertou ao dizer que usar o achado para dizer que
Cristo era casado não passa de sensacionalismo, e que o relato diz mais
sobre os cristãos coptas do século III do que propriamente sobre Jesus
Cristo.
Também
vale notar é que a apologética histórica sempre tem de lidar com a
objeção da incognoscibilidade da história, que é jogada na gaveta assim
que qualquer pedaço de papel de uma época qualquer supõe, em algum
nível, uma ameaça a qualquer doutrina cristã milenar. Apenas nestes
casos "a história prova" isso ou aquilo. Ou seja: evidência histórica,
para alguns, só vale quando é contra o cristianismo.
Por
aí se vê o que é o "pensamento crítico" e o "uso da razão" para certos
ateus, neoateus militantes, agnósticos, botequeiros e palpiteiros
compulsivos.
E
não deixa de ser engraçado o fato de que muitos destes que não poucas
vezes dizem que Jesus nem mesmo existiu, agora afirmam que Ele era
casado e que os cristãos não querem admitir tal fato.
Eis a “lógica” destes que posam de guardiões da ciência. Mesmo sem existir alguém pode se casar.
2 comentários:
Guri, passei por aqui para fazer a propagando do novo Távola Redonda(www.novatavolaredonda.blogspot.com). Tive que criar outro blog. Dá uma olhada lá. Grande abraço e o negócio aqui está bonito de ver.
É bom saber do novo Távola Redonda, meu prezado. Vou atualizar e já visitar.
Abração!
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