segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Robinson Cavalcanti: sempre socialista, nunca conservador

Publicado em 09/08 no site Mídia sem Máscara.

Bastou uma leve aproximação no tom de seu discurso com o ideário conservador, e um dos mais proeminentes esquerdistas da igreja brasileira, o bispo anglicano Robinson Cavalcanti tem seu artigo publicado no mais importante veículo de comunicação assumidamente liberal-conservador do Brasil. Mas o erro não foi só dos brasileiros. Nos Estados Unidos, ocorreu algo parecido. Portanto, fica o aviso: não, senhores, o bispo anglicano Robinson Cavalcanti não é um conservador. Não é nem mesmo o que pode se chamar de direitista. Não é liberal clássico, nem um libertário, e muito menos um conservador, seja da vertente moderada, da mais anti-estatista, ou mesmo um neocon discípulo de Leo Strauss. Nem isso. Ele é e sempre foi um socialista.

Cavalcanti deve ter notado a associação indevida de sua pessoa com o conservadorismo, mas até agora não quis se pronunciar para desfazer o equívoco. Estaria ele agindo estrategicamente? É presumível que sim.

Ex-deputado pelo PT, partido pró-aborto, pró-gayzismo, aliançado com grupos terroristas de esquerda latinos como as FARC colombianas e o Sendero Luminoso no Foro de São Paulo, Cavalcanti, que também é cientista político, foi o mentor e fundador do MEP – Movimento Evangélico Progressista, agremiação de militantes “esquerdistas cristãos”. Afirmou que saiu do PT porque, além de ter sido eleito para o episcopado anglicano, em sua visão, o partido abrandou o discurso e não era mais de esquerda o suficiente:

não estou mais filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1997, em razão da minha eleição ao episcopado anglicano. Tenho memórias positivas de um passado de lutas pelo estado democrático, pela soberania nacional e pela justiça social. Tenho também percepções cada vez mais negativas da ruptura-ideológico-programática desse partido
(Revista Ultimato, edição de setembro/outubro de 2004)

No segundo turno da reeleição de Lula, em 2006, no mesmo sentido, Cavalcanti escreveu:

Depois de me esgotar rodando o Brasil nas campanhas de 1989 e 1994, sou surpreendido com a confissão de Lula: “Nunca fui de esquerda”. (...) Como funcionário público de classe média, professor universitário, aposentado, socialista democrático e evangélico, não tinha mais razão para votar em Lula.
(Ultimato, edição de janeiro/fevereiro de 2006)

Vale destacar que Robinson Cavalcanti não é um conservador nem mesmo em termos teológicos. É uma das principais referências no Brasil quando o assunto é a teologia da Missão Integral, uma espécie de versão protestante da “teologia” da “libertação”, com a qual militantes socialistas transformaram milhares de paróquias da América Latina em meros think-tanks da subversão política. Não é porque agora, com o recrudescimento do agitprop gayzista, que o deixou alarmado, que Cavalcanti abandonou o ideenkleid socialista. Ele não fez isso publicamente. E mesmo se o fizesse, quem conhece a história do comunismo sabe que após a rejeição pública de seus velhos e torpes ideais, o suposto ex-militante deve ficar sob observação atenta. No caso de Cavalcanti, esse cuidado não é necessário. Pois ele não negou nada do que está em seus livros, artigos e discursos, nos quais mistura e associa socialismo e cristianismo.

A teologia de Robinson Cavalcanti, bem como algumas de suas posições em relação à família e à sexualidade também afrontam não só o conservadorismo, mas também o cristianismo histórico. Sobre a monogamia, ele afirma:

O ideal existe, mas sua manifestação histórica pode ferir outros tantos ideais divinos: sanidade, amor, fé, pois a monogamia pode ser, em muitos casos, apenas aritmética (1+1) e não qualitativa. A manutenção de outros ideais divinos tem levado, por sua vez, à necessidade de modelos não-monogâmicos que tornam possível a preservação e a promoção daqueles outros valores e idéias diante da impossibilidade histórico-conjuntural da simultaneidade de todos os valores (p. ex. Israel no Antigo Testamento.
(no e-book Libertação e Sexualidade, págs 71 e 72)

É claro que ele omite a passagem bíblica em que Jesus Cristo reafirma aos fariseus a prescrição divina irrevogável: Deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua (no singular) mulher, tornando-se os dois uma só carne. Também não fala do padrão paulino para bispos e diáconos: maridos de uma só mulher.

Antes, a preocupação de Cavalcanti é meramente igualitarista, e acarreta na hipótese de que Deus estabeleceria padrões de conduta impossíveis de serem vivenciados ao longo da história:

O ideal divino, edênico, seriam as uniões monogâmicas? Sim, mas para todos. Ou seja, a exigência de absolutização desse modelo seria legítimo historicamente quando, concomitantemente, houvessem as condições objetivas para que todos a usufruíssem, não ficando ninguém sem casar, conforme, igualmente, o ideal edênico. Não seria teologicamente correto, nem eticamente honesto, exigência de um aspecto sem levar em conta a totalidade da Ordem da Criação.
(Libertação e Sexualidade, pág 72)

Aqui fica óbvia a transposição da mentalidade “socialista democrática” de Cavalcanti para a esfera teológica, com todas as suas nefastas conseqüências de ordem espiritual e moral. “Só não é pecado se todos tiverem o mesmo direito”. Mas nada apóia esse raciocínio comunistóide nas Escrituras. “As manifestações sociais do pecado, as perversões, como as guerras, as epidemias, as enfermidades, os acidentes, as desigualdades, os preconceitos, têm tornado impossível o outro lado desse ideal”, afirma o bispo no parágrafo seguinte. Como se a presença do pecado no mundo pudesse relativizar a ordenança divina, única fonte da qual se pode entender a noção mesma de pecado. A ilogicidade da assertiva raia o ridículo.

Esse é o verdadeiro e conhecido Robinson Cavalcanti, ainda que faça boas críticas à ditadura gay (que, na verdade, ajudou a forjar, pois sempre se empenhou para que os evangélicos brasileiros apoiassem candidatos esquerdistas) e reconheça que, em última instância, a verdade e justiça absoluta estão não mãos de Deus. O que não é suficiente para fazer dele um conservador, ou seja: alguém que não faz qualquer concessão a ideologias, ao intervencionismo estatal cada vez maior e à relativização de valores espirituais e morais. Robinson Cavalcanti é mais um exemplo daqueles cristãos que deixaram-se influenciar pela mentalidade secular em muitas de suas posições.

Fica a reprimenda aos conservadores autênticos: mais atenção, mais discernimento e mais conhecimento histórico é necessário. Não dêem crédito de imediato a qualquer assertiva de origem duvidosa, por mais que esta se assemelhe aos postulados conservadores. A história do movimento revolucionário mundial é a do ódio e da perversão travestidos de caridade e zelo moral. Para a esquerda, não interessa o discurso, desde que ela seja capaz de arrebanhar militantes e semear os impulsos gnóstico-revolucionários na alma de seus ouvintes, com um único objetivo: a revolução, a “nova ordem”. Estejamos atentos.

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Esse é meu segundo artigo que sai no MSM. O outro foi esse post.

Leia também o post Política à luz da Bíblia.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Nos tempos da blasfêmia pop

Eles valem-se do conceito bíblico de blasfêmia contra o Espírito Santo, acreditam que há um inferno e na fórmula infalível, de acordo com a Bíblia, de ir parar lá. Portanto, não se pode classificar o pessoal do Blasphemy Challenge, que está lançando a campanha do “desafio da blasfêmia”, de ateus sérios. Eles nada mais são que provocadores anticristãos.

Para divulgar o filme The God Who Wasn't There (O Deus que não estava lá) - alusão ao best-seller do apologeta presbiteriano Francis Schaeffer, The God Who Was There – o “ministério” Blasphemy Challenge (www.blasphemychallenge.com) propõe ao “desafiante” que grave um vídeo no qual blasfeme contra o Espírito Santo, o único pecado sem perdão, segundo o texto do Evangelho de Marcos 3 verso 29, e envie-o a sites como o YouTube. E avisam: “Jesus vai te perdoar por qualquer coisa que você fizer, mas ele não vai te perdoar se você negar o Espírito Santo. Nunca. Essa é uma estrada sem retorno que você esta escolhendo agora.” O prêmio? Uma cópia de The God Who Wasn't There.

Um dos objetivos confessos dessa turminha é aumentar a população do inferno. Nesse sentido, são mais crentes na Bíblia do que os adeptos da heresia universalista. A danação eterna poderá vir, no futuro, a muitos que aderiram à proposta, mas é para o presente momento que a idéia do Blasphemy Challenge tem visivelmente uma meta muito mais séria, por mais que não assumam: por meio da chacota, ridicularizar a fé em Cristo e contribuir para o recrudescimento do anticristianismo, fenômeno notório em quase todo o Ocidente. Certamente os idealizadores do projeto pouco se importam, ou mesmo ignoram de que cristianismo é a religião mais perseguida do mundo e o número de vítimas dessa caçada chegue a 90 mil por ano. A cumplicidade, mesmo inconsciente, é clara, e a História mostra que a perseguição cultural sempre precede à física, a matança em larga escala. É só perguntar a qualquer judeu alemão que assistiu a chegada de Hitler ao poder.

Com tantos adolescentes aderindo, não se pode negar o contorno de esporte radical, de X-Games, que o Blasphemy Challenge adquiriu. O anticristianismo, entre os adultos é supostamente intelectualizado, instigado e influenciado pelos bem-falantes da mídia de massa. O dos adolescentes, para emplacar, não poderia usar gravata: anda de skate e aparece no Youtube. É basicamente Jackass religioso. Aí está a nova tendência. Logo aparecerão mais filmes, videogames e streetwear baseados numa afronta estilozinha ao cristianismo.

Vale lembrar: fosse uma gozação ao budismo, ao hinduísmo, à wicca ou a qualquer culto tribal, os poodles midiáticos teriam chiliquinhos e gritariam: etnocêntricos! Intolerantes! Como é contra o cristianismo, “viva a liberdade de expressão”. Se fosse contra o islamismo, bem, o episódio dos cartuns na Dinamarca refresca a memória, serve de exemplo, e dispensa comentários.

Num quadro como o atual, se os cristãos realmente estivessem atentos, já teriam se posicionado de forma diferente. Infelizmente, parecem acuados demais por bobagens como o evolucionismo, o cientificismo, a manipulação lingüística dos politicamente corretos, a recriminação da fé nas escolas e na Academia, e a insistência na divulgação da mitologia iluminista que caricaturiza o cristianismo e faz as mais estapafúrdias distorções históricas. Cada um desses elementos tem um papel importante para a formação de uma sociedade cristofóbica. Não são poucos os que defendem tais coisas sabendo claramente disso.

Para agravar a situação, o fato é que os cristãos ainda não conhecem a superioridade de suas posições frente à lorota agnóstica e ateísta e acabam enredados pela gritara cética. Podem pagar caro por isso, e a secularização da Europa, já em estado avançado, o esvaziamento de muitas igrejas e as dificuldades crescentes para a evangelização são evidências de que é hora de um despertamento apologético e evangelístico de envergadura mundial.

Jonathan Edwards, rara combinação de teólogo erudito, apologeta e ousado avivalista, já avisava: o inferno é fechado pelo lado de dentro. O espetáculo trash perpetrado pelos “ateus” do Blasphemy Challenge confirma mais uma das convicções do velho mestre calvinista, e compactua, ainda que de maneira cínica e irresponsável, com uma chegada mais rápida de muitos mártires cristãos ao paraíso celeste.