"O intelectualismo isolado é como o luar, porque é uma luz sem calor, uma luz secundária refletida por um mundo morto. (...) a lua é completamente racional; a lua é mãe dos lunáticos, e a todos eles deu o seu nome." G. K. Chesterton
segunda-feira, 7 de novembro de 2005
Bakunin e a fé cristã
"A ideologia é a existência em rebelião contra Deus e o homem”.
Eric Voegelin
Grande inspirador do anarquismo, Bakunin disse certa vez que as pessoas vão à igreja pelos mesmos motivos que vão à taverna: para estupefazerem-se, para esquecerem-se de sua miséria, para imaginarem-se, de algum modo, livres e felizes. Essa declaração evidencia muito bem o profundo desconhecimento de Bakunin ao que vem, de fato, ser o Cristianismo.
Mal sabia ele, como parecem fazer questão de também não saber os ateus de hoje, que o cristianismo propõe ao homem não é conforto algum. Não num primeiro momento. Pois o homem que crê no Evangelho, é antes de tudo, desafiado. O cristão é confrontado pela santidade de Deus, expressa em Cristo, a quem deve imitar. Constrangido e entregue ao amor de Deus, passará a refrear tudo o que existe em sua natureza caída para viver como um verdadeiro príncipe de um reino de pureza e bondade eternas. Não desejará viver mais como uma simples criatura, restrita a seus instintos mais elementares e rasos. Buscará moldar seu caráter para tornar-se testemunho vivo do infinito amor de Deus pela humanidade. Fará tudo para viver por modo digno do evangelho, e se perseverar até o fim, será salvo.
Como o próprio Bakunin afirmou, não há nada tão estúpido como uma inteligência orgulhosa de si mesma. Mas me parece que esse era exatamente o caso de Bakunin, que, como mentor ideológico de milhares de pessoas, mal conhecia aquilo que ele mesmo considerava como seu inimigo, o Cristianismo. Dizia que religião é demência coletiva, certamente com um único objetivo: para estupefazer-se, para se esquecer de sua miséria, para se imaginar, de algum modo, livre e feliz. Duvido que tenha conseguido, pois quem declarou que "a paixão pela destruição é uma paixão criativa", só pode ter vivido num profundo caos psicológico, moral e espiritual. Daí seu apego à ideologia anarquista, seu frágil alicerce, seu ópio.
Pobre Mikhail Aleksandrovitch Bakunin. Não aprendeu que é mais fácil querer mudar o mundo do que querer mudar a si mesmo. Que tomar partido é fácil, que difícil é tomar consciência. Como bem observou W. H. Auden, “preferimos ser destruídos a ser transformados”.
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