Pecado que não solta fumaça. E que muitos legitimam, aceitam e pior, louvam, batem palmas... Pecado que nem parece que é um vício. Mas faz mal a saúde assim como o alcoolismo, o tabagismo, etc... A conseqüência natural dele muitas vezes é encarada como simples “tendência”, algo hereditário, “de família”, mas nem sempre é o caso. Como dificilmente é encarado como pecado, a maioria dos cristãos sequer cogita examinar-se para observar a que ponto cede a ele, a que ponto deixou seus hábitos serem moldados por esse procedimento pecaminoso. Cativa do simples recém-convertido a obreiros, diáconos, pastores e apóstolos... Hedonismo, luxúria gastronômica. Sim, esse pecado é a gula. Mais do que a diabólica “mentirinha que descomplica”, esse provavelmente, é o pecado que os cristãos fazem mais vistas grossas atualmente.
Fico impressionado com alguns grupos cristãos, tão categóricos em relação às bebidas alcoólicas e ao tabaco, e que, por outro lado, fazem de algumas de suas festas e confraternizações verdadeiras orgias gastronômicas. Acredito que se o Império Romano não tivesse oprimido tanto a igreja primitiva e seus costumes não estivessem tão associados à Babilônia, é bem provável que o vomitorium fosse peça comum em nossas igrejas e salões de festas.
Há também os que só não glutões inconseqüentes e imprudentes por um fator presente na Igreja que se encontra no extremo oposto da questão, tão alarmante quanto à gula socialmente aceita: um desmesurado, frívolo e sensualóide culto ao corpo, que traz às igrejas corpos curvilíneos e musculosos, mas almas aos frangalhos e cérebros vazios.
Os bancos das igrejas estão cada vez mais cheios. Não me refiro, porém, a uma grande colheita de almas, pois para encher tais bancos precisa-se de cada vez menos pessoas, pois o número de obesos multiplica-se e a maior parte dos cristãos ainda prefere apenas celebrar e agradecer a presente fartura a confrontar seus próprios hábitos e pecados, pelo simples fato de que eles se legitimam social e eclesiasticamente.
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